Que momento difícil esse em que nos encontramos. Eu tinha toda uma programação para o mês de
março, com leituras e resenhas de obras de grandes escritoras e teríamos também
segundo encontro do nosso Rodízio Literário, onde fizemos a leitura da
maravilhosa poesia de Ryane Leão. Mas de repente tudo mudou e infelizmente
vamos ter que adiar o encontro e sinceramente eu perdi um pouco do pique do que
estava preparando para este mês.
Ocupei boa parte dos meus dias buscando, filtrando e digerindo
as informações a respeito do covid-19. As coisas estão acontecendo e mudando de
paradigmas muito rapidamente, na mesma velocidade da transmissão do vírus. Então,
demorei um pouco para me organizar e pensar no que fazer nessa quarentena, que pelo
visto não será só de quarenta dias. Que coisa! Mas vamos tentar ver o lado
positivo (se é que podemos chamar assim) de tudo isso?
A orientação máxima para conter essa pandemia é para ficar
em casa. Oras, para quem pode fazer isso, essa talvez seja uma oportunidade
única de utilizar um pouco desse nosso precioso tempo de vida com nós mesmos.
Acredito que vocês devem estar recebendo aí chuvas de indicações de coisas para
matar o tempo nesse período. Mas que tal se em vez de matar o tempo, nós pudéssemos
viver esse tempo. Sabe, experimentar essa chance de fazer algo significativo,
intenso, belo e transformador. Algo que nos faça sentir nossa existência de
maneira mais ampliada. Ficar em casa pede recolhimento não só do corpo, mas da
mente e espírito. Se resguardar por inteiro e ao mesmo tempo direcionar nosso olhar
para o que há de mais profundo em nós.
E sabe o que pode ajudar a chegar nesse elevado nível de
consciência? Um livro. Sim, o bom e velho livro! Os filmes, séries, jogos e
tals, podem ser interessantes experiências de leitura, reflexão e diversão, mas
nenhuma delas se compara ao livro.
Compreendo que ler um livro é uma tarefa árdua para muita
gente e de modo geral é um desafio de diferentes níveis para cada um de nós. Pois,
trata-se de uma atividade que exige disciplina e até mesmo disposição física
para poder mergulhar numa narrativa. Sem contar que o acesso ao livro impresso
tem se tornado cada vez mais escasso e agora com bibliotecas fechadas ficará
ainda mais difícil. No entanto, mesmo compreendendo que o que vou propor aqui
vai na contramão das ansiedades por distrações de fácil acesso, não consigo
deixar de recomendar ler livros durante essa quarentena. Pode ser aqueles
empoeirados na sua estante ou os que estão disponíveis em plataformas digitais,
mas leia um livro.
Ler um livro é uma verdadeira aventura, um exercício de
concentração quase meditativo e ao mesmo tempo uma experiência sensorial
incrível. Quem tem o privilégio de ter livros impressos por perto, pode
vivenciar uma experiencia que considero inigualável: ao tocar e pegar no livro sentimos o peso e a textura
do papel, o cheiro que bate a cada virada de página, as emoções que surgem a
cada parágrafo e depois vem a famosa ressaca que bate quando aquela história em
que você se envolveu tanto, simplesmente acaba.
Nada contra as plataformas digitais, pelo contrário, acho
que elas cumprem o papel da acessibilidade e expandem a aventura literária para
lugares onde o livro impresso talvez nunca chegue. Mas particularmente não
consigo abrir mão desse contato físico com o livro em papel. Preciso desse
cheiro de papel e tinta, isso é totalmente pessoal.
Sempre que indico leitura de livros, ouço o resmungar de gente
dizendo que não gosta de ler. Neste caso costumo responder o seguinte: não é
que você não gosta de ler, provavelmente você só não descobriu ainda seu gênero
ou estilo literário! Ou então você ainda não encontrou sua alma gêmea
literária, aquele escritor (a) que com ardilosas palavras te arranca do marasmo
da ordinária vida cotidiana. E para isso você precisa ir à luta, percorrer
páginas e páginas, procurar até encontrar. E cá entre nós, já adianto uma coisa:
a melhor parte dessa jornada não é quando a busca termina, mas sim o próprio
caminho.
Não se preocupe se não souber por onde começar a ler, afinal
estarei por aqui de quarentena também, compartilhando dicas de leituras e
aventuras para que esse tempo difícil em que vivemos, possa ser o menos
doloroso possível. E se tem algo que pode nos livrar do tédio e nos guiar nos
caminhos que levam às profundidades do nosso ser e à elevação da consciência, o
nome disso é Literatura.
Fiquem em casa, se cuidem e aproveitem!
Fiquem em casa, se cuidem e aproveitem!
Karina Guedes
@okarapoetica