terça-feira, 28 de junho de 2022

THE WITCHER - A SAGA DO BRUXO GERAL DE RÍVIA - MINHA LEITURA DOS 7 LIVROS.

Comecei a ler os livros depois de ver a série, mas confesso que não foi amor à primeira vista. Por duas vezes comecei e parei, não chegando nem ao segundo episódio. Não estava no clima para um tema tão denso. Na terceira tentativa fluiu e acho que graças à personagem Yennefer. Tanto a personagem quanto a atriz me fisgaram, me encantei e consegui terminar a série. E na ansiedade de saber o que aconteceria depois, fui ler os livros.   

Na literatura, a história de Gerald é contada primeiramente em forma de contos e os primeiros contos foram agrupados em dois livros, “ O último desejo” e “ a Espada do destino”. Gostei muito dos dois primeiros livros e o modo como os contos estão articulados, gerando mais curiosidade sobre a narrativa. A sequência se dá em forma de romance, começa com “ O sangue dos Elfos”,  seguidos por  “Tempo de desprezo”, “ Batismo de fogo”, “ A Torre da Andorinha” e “ A Senhora do Lago”. Há ainda um oitavo livro, “Tempo de Tempestade” que foi escrito posteriormente e que se encaixa no início de toda a narrativa, como um “prelúdio”. 


Vamos começar pela ambientação e enredo da história da Saga do Bruxo 

 O lugar onde se passa a maior parte da narrativa é chamado de “ O Continente” e em algumas passagens fica implícito que há mais terras que ainda não foram exploradas e que é possível que haja algo além-mar que é desconhecido. Apenas uma pequena parte do mundo do bruxo é conhecida, incluindo os numerosos reinos no Norte e o Império Nilfgaardiano no Sul. Toda a história se passa neste Continente onde existem os reinos governados por seres humanos (reis, rainhas, duques etc) e os territórios governados por elfos e outros inumanos. O mundo apresentado nas obras sobre o bruxo inclui o planeta sem nome para o qual as pessoas vieram de outro mundo, bem como outros mundos paralelos, por exemplo, o mundo de Aen Elle, para o qual Ciri se move, graças às suas habilidades.

Já nos primeiros contos são revelados os conflitos entre elfos e seres humanos, o que faz com que as diversas raças (magos, feiticeiros, anões, metadílios, lobisomens, vampiros, ananicos, duendes, dríades, unicórnios, etc) se envolvam direta ou indiretamente nesses conflitos, hora aliados aos humanos, hora aliados aos elfos, ou simplesmente tentando não se envolver, dependendo do jogo de interesses de cada grupo. E temos em meio a esse conflito o reino de Nilfgaard, liderado pelo imperador Emyr var Ermeis que começa invadir territórios e tentar conquistar reinos ao norte do continente provocando assim uma grande guerra que se desenrola no decorrer da história. E onde há guerra, há conchavo político, corrupção, violência, mortes, etc. É nesse contexto que a história de Gerald se desenvolve. 

Os bruxos, categoria do qual Gerald faz parte, normalmente não se envolvem nos conflitos políticos do Continente, é uma questão de ética deles. Isso fica evidenciado na trajetória de Gerald, porém essa neutralidade será colocada em cheque em diversos momentos e Gerald será obrigado a escolher um lado para lutar, nem que seja para se defender, e será levado a lutar na guerra entre Nilfgaard, reinos e elfos. Ou seja, é impossível ficar de fora dos conflitos ou não ser atingido pela guerra. 

Logo no início conhecemos a personagem Ciri, a criança de sangue antigo que será alvo de conquista de todos os grupos, pois sua linhagem real (é uma princesa), seu poder ancestral devido ao seu sangue élfico e sua genética (ela é uma fonte de poder) podem ser usados como uma poderosa arma nessa guerra. Portanto quem a dominar, obterá um poder invencível. Devido a essas características únicas e à potência que carrega em sua genética, ela passa a ser perseguida pelos grupos mais sedentos de poder deste continente, cada um com seu próprio interesse pelo poder ou “valor de mercado” da garota. 

Mas é por uma mágica intervenção do destino, que cabe ao bruxo Gerald proteger Ciri. No entanto, ele não acredita em destino e em profecias. Mas mesmo assim, acaba se incumbindo da tarefa de protegê-la, guiado muito mais pela sua consciência e ética do que por qualquer crença. Apesar de ser um matador de monstros, Gerald tem seu próprio código de conduta e apesar de sua postura de neutralidade política, ele se revela um defensor dos mais fracos na maior parte da narrativa. 

E assim começa a saga do Bruxo, onde será envolvido por várias tramas e será levado a lutar e defender quem ama e isso é algo revelador no decorrer da narrativa, pois no início somos convencidos por ele mesmo de que os Bruxos não amam ninguém, que são apenas mutantes insensíveis e indiferentes à vida alheia e estão apenas preocupados em ganhar seu dinheiro matando monstros e nada mais lhes interessa. Porém, as atitudes de Gerald aos poucos contradizem essa visão e a cada aventura que compõe esta história, torna-se inevitável nos simpatizarmos com ele e torcer pela causa que inevitavelmente ele abraça. E sua jornada se tornará longa e cheia de desafios, pequenas vitórias, grandes derrotas, inevitáveis perdas, como toda aventura heroica precisa ser.

 Apesar de ser a saga de Gerald, ele não é o único herói da história, sua trajetória cruza com a trajetória de duas mulheres incrivelmente fortes, a já mencionada Ciri e Yennefer a feiticeira por quem o Bruxo se apaixona. Juntos eles compõem a tríade heróica da narrativa. Yennefer e Ciri, revezarão ao lado do Bruxo o protagonismo da narrativa e terão papel fundamental no desenvolvimento dele e em sua evolução no decorrer da história.

Esses três personagens, solitários em suas trajetórias individuais vão encontrar uns nos outros a força e a motivação para seguir em frente e enfrentar os mais violentos e aterrorizantes desafios em suas jornadas. Os laços afetivos que os unem, tornam suas motivações mais profundas para continuar lutando até o fim.


 Os personagens principais

De modo geral os personagens são carismáticos, alguns mais outros menos. Os vilões são convincentes e realmente nos aterrorizam.  O autor não economiza nas doses de violência e crueldade dos vilões.

Os três personagens principais. Gerald, Yennefer e Ciri têm um bom nível de evolução, principalmente Ciri que sai da condição de donzela a ser salva pelo seu protetor, para ser salvadora de si mesma e inclusive daqueles que tentam protegê-la.

Yennefer e Gerald me conquistaram cada qual com suas imperfeições. Adoro personagens imperfeitos, sobretudo quando são os heróis da história. Isso os coloca num grau de igualdade com a gente e nos inspira. Afinal somos imperfeitos e ver nossas próprias imperfeições representadas nos personagens dá aquele empurrãozinho básico para as reflexões necessárias sobre nós mesmos. Adoro quando a literatura de ficção consegue me provocar o suficiente para ir além da diversão e aprender alguma coisa com as emoções vivências pela leitura.

Yennefer é uma feiticeira ambiciosa, corajosa e muito perspicaz. Sua astúcia e ousadia lhe rendem admiração e má fama ao mesmo tempo. Dona de si, vive para seus próprios interesses, mas não consegue fugir da atração que sente por Gerald e se entrega a esse amor. Do seu jeito, mas se entrega.
Sua obsessão por ser mãe a leva a cometer alguns erros e ela paga por cada um deles. Mas é na relação com Ciri que ela vai descobrir o sentido da maternidade e vai involuntariamente se permitir ser mãe adotiva.

Gerald, que a princípio se mostra frio, rude e agressivo. Aos poucos se revela mais cavalheiro do que muitos cavalheiros dos reinos que estão em luta. E talvez seja essa inversão que tanto nos cativa, ele é ranzinza, cheio de traumas e esconde seus medos, mas por trás do lobo solitário e indiferente a tudo e a todos, tem um homem que ama e quer ser amado. Isso cativa e nos leva a perdoa-lo em suas escolhas equivocadas e seguimos com ele em seus caminhos errantes.


Tudo acontece de forma inesperada na vida desses personagens e em muitos momentos eles perdem tudo o que tem e são obrigados a começar tudo novamente. E é justamente suas respectivas capacidades de ser reerguer e recomeçar que nos empolga  a ler toda a história, pois nos aproxima deles e isso cativa, emociona e empolga.  Afinal, a vida real é também cheia de altos e baixos, de erros e acertos, ciclos que começam e ciclos que terminam.

Minha leitura

A linguagem é fluida e dinâmica. Não temos um único narrador, pois muitos eventos e tramas da história são narrados pelos próprios personagens. Algumas vezes num futuro distante relembrando fatos do passado, dando a impressão de que toda a história que estamos lendo já foi escrita e todos já a conhecem. Algumas expressões e palavrões muitas vezes são palavras modernas (ao menos na tradução para Língua Portuguesa, que foi a que li), o que traz a história para o nosso tempo, apesar de que teoricamente teria acontecido há muito tempo atrás, nos primórdios da história do mundo (ou dos mundos). E sim, tem muito palavrão no texto, alguns personagens são bem desbocados e suas falas são agressivas e violentas, e de certa forma isso dá ao trabalho de Sapkowski uma identidade própria. 

Talvez esse tom obscuro da narrativa seja a influência das mitologias em que o autor se inspira, mitologia eslava, mitologia celta, mitologia nórdica, na quais podemos encontrar dentre as diversas histórias que compõem essas mitologias,  muitos mitos e lendas cheias de violência e terror, sobretudo na mitologia eslava. As histórias do leste europeu em geral são bem diferentes e têm estruturas e características que de longe nos causam certo estranhamento. O autor lança esse tom mais sombrio dessa mitologia em seu texto a partir do romance que compõe a saga do Bruxo e tenta fazer essa ponte entre o ficcional fruto do imaginário popular (que pode ter fundo de verdade) com situações reais, sobretudo de momentos de guerra. Em diversos momentos menciona elementos dessas mitologias e principalmente da cultura celta, sobretudo o calendário e as datas festivas.

Difícil não lembrar de Senhor do Anéis e outras histórias de fantasia. Apesar do autor beber da mesma fonte de Tolkien e outros escritores de fantasia europeus, o mundo criado por ele é muito diferente dos demais. Digamos que ele não coloca em sua narrativa aquele romantismo de Tolkien ou aquele tom mais juvenil de JK Rowling por exemplo. 

No mundo criado por Sapkowski há muita violência, não só na guerra, mas em muitos momentos no desenrolar da vida dos personagens. Durante a narrativa os personagens se deparam com situações como o deflorar da puberdade, a descoberta do sexo, estrupo, incesto, aborto, sexo consentido (com descrição cenas bem eróticas), sexo como instrumento de manipulações e poder, prostituição, torturas e misoginia. Alguns vilões são sanguinários e a descrição minuciosa das cenas violência e tortura são de embrulhar o estômago. A saga do Bruxo que se inicia a partir do terceiro livro vai tomando um tom cada vez mais obscuro e violento, distanciando um pouco nas nuances dos dois primeiros livros de contos. E a partir do quinto livro a história fica bem pesada. 

 

 A vida imita arte ou a arte imita a vida?

É um livro de ficção/ fantasia sem dúvida. Porém, na narrativa construída por Andrzej Sapkowski essa atmosfera ganha doses extras de verossimilhança com a própria história de povoamento e assentamento dos povos indo-europeus. Em muitos momentos a fantasia dá lugar a realidade e parece que estamos apenas lendo relatos de muitas das guerras conhecidas na história humana. 

A utilização da metalinguagem para dar a narrativa tons de verossimilhança, foi uma escolha muito criativa.  O autor tenta de uma forma criativa entrelaçar o mundo real com o mundo inventado, e faz isso partir das próprias lendas locais que são em alguns momentos recontadas em sua história ou então criticadas pelos próprios personagens num tom de ironia e sarcasmo.

No entanto, nos livros finais percebemos que essa tentativa de colocar lendas folclóricas inventadas por ele, entrelaçadas com as lendas folclóricas que conhecemos das mitologias dos povos antigos da Europa numa narrativa linear e “única”,  vai ficando cada vez evidenciada a partir do sexto livro e também no último livro quando aparece a personagem Nimue e Galahad, o cavaleiro de Camelot. Ambos personagens do Círculo Arturiano. 

Tenho apreço pelas mitologias eslava, nórdica e celta e conheço algumas das lendas mencionadas na história do Bruxo, e isso facilitou a compreensão de modo geral.  Gostei da parte da releitura de lendas muito conhecidas, como “A Branca de Neve, “A Bela e a Fera”, “A Pequena Sereia”, levando em conta as versões mais antigas dessas histórias que são carregadas de violência e terror. Gostei também da releitura que Sapkowski faz delas e o modo como as insere na narrativa, principalmente nos dois primeiros livros. Funcionou na estrutura dos contos.  Mas no arco do romance em si, que acontece a partir do terceiro livro, achei que algumas coisas não se encaixaram muito bem, nessa tentativa de conectar todas essas diversas lendas com as lendas inventadas pelo autor. 

Fiquei com a impressão de que ao longo de toda a narrativa o autor tentar explicar a história do continente através de conceitos científicos que conhecemos muito bem no mundo real. Ora esses conceitos são criticados, ora são utilizados para explicar as profecias, lendas e crenças dos personagens.

É como se a história do mundo real que conhecemos fosse contada partir do ponto de vista dos seres fantásticos e nossas próprias teorias fossem “corrigidas” a partir do ponto de vista deles. E quem vai dominar esse discurso de autoridade acerca da criação do mundo são os elfos e em sua versão da história do mundo, os humanos são apenas um capitulo desastroso, fica implícita aqui uma boa crítica a presença do homo sapiens no planeta. 

Apesar de considerar essa estratégia narrativa muito criativa, achei que ficou um pouco confusa. Essa mistura de muitos mitos diferentes e tão carregados de simbolismos passíveis de vários tipos de interpretações e que por vezes soam contraditórios e incompreensíveis entre si.

Nada que implique no deleite na narrativa principal, a trajetória de Gerald, Ciri e Yennefer, mas causa uma certa distração e confusão na apreciação da narrativa como um todo. Tive  certa dificuldade de delimitar a unidade temática da história, pois parece ser sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Seria sobre amor e guerra, sobre solidão e encontros, sobre dominação e resistência, ou seria sobre tudo isso misturado? Não consigo definir.

Para não perder o pique da leitura, decidi me concentrar mais no núcleo Gerald, Yennefer e Ciri, do que na guerra humanos x elfos x Nilfgaard, justamente porque a justificativa desta guerra está totalmente calcada nesses simbolismos misturados e a meu ver um pouco confuso.

 

As personagens femininas em The Witcher 

Um ponto muito positivo na narrativa é a presença de muitas personagens femininas que quebram os estereótipos muitas vezes usados para descrever as mulheres em narrativas de aventura e que ficou de certa forma consolidado pelas versões mais modernas desses contos de fadas mais famosos.

Na história de Sapkowski, encontramos muitas mulheres guerreiras, livres, donas si, que empunham espadas, lutam e se aventuram tanto quanto os personagens masculinos e isso é muito gostoso de ler. Aqui as mulheres têm protagonismo na história, seja como vilãs ou heroínas, elas aparecem, tem importância nos núcleos principais da narrativa e são muitas vezes a chave para o desenrolar da história. A própria trajetória de Ciri e Yennefer evidencia isso.



Sobre o final

Sinceramente, não gostei do desfecho da luta entre o imperador e Gerald. Acho que ficou muito sem sentido. E o ponto que me incomodou foi a inesperável desistência do imperador Emyr no confronto final com Gerald. Vejam bem, durante sete livros somos aterrorizados pela monstruosidade, perversidade do impiedoso Emyr var Emreis e seu plano macabro de ascensão e poder. Depois ficamos horrorizados com seus projetos incestuosos para com sua filha, sendo que ele mesmo dispôs dos piores bandidos para persegui-la, fazendo com que passasse por todo tipo de violência. E de repente, como num passe de mágica, diante do choro de Ciri ele simplesmente desiste de tudo. Liberta a garota, consequentemente Gerald e Yennefer a quem ele tinha acabado de sentenciar a morte para que não interferissem em seus planos macabros. Simples assim, ele desiste. Tudo isso em menos de cinco páginas. Sinceramente, eu esperava mais. 

A aceitação da morte por parte de  Gerald e Yennefer dá até para engolir, porque eles estavam cercados pelo exército Nilfgaardiano e não sairiam dali com vida. Mas a desistência de Emyr de seus próprios planos foi decepcionante. Não que eu quisesse que meus queridos personagens morressem nas mãos deles, ou que Ciri sofresse ainda mais ou algo do tipo, mas faltou alguma coisa nessa cena. Faltou um motivo a mais para essa renúncia. Pra mim ficou um vácuo, um buraco sem explicação.
Deu a impressão de que não só os personagens estavam cansados de tanta luta, mas o autor também.

Já o final-final é ambíguo, não dá para ter certeza de que sobreviveram. Podemos ler que sim, com a ajuda do unicórnio Ciri conseguiu salvar Gerald e levar ele e Yennefer para um lugar seguro e foi tudo lindo e viveram felizes para sempre.

Mas dois detalhes no texto dão pistas para outra interpretação, eles estavam leves (como fantasmas) , a presença de companheiros que já haviam morrido ( mesmo que por alucinação, afinal em muitas culturas mortos veem mortos). Dá para interpretar que eles morreram e foram para algum tipo de paraíso (uma ilha, tal qual Avalon, novamente a ligação com lendas do círculo Arturiano).

E por isso Ciri, senhora do tempo e do espaço, que viajou até Camelot, chora ao contar esse episódio final para Galahad, filho de Lancelot, estando os dois à beira do lago mágico (menção direta a famosa lenda do círculo Arturiano, a Dama do Lago). Vejo aqui mais uma evidencia da tentativa do autor de “encaixar as lendas” numa narrativa mais ou menos linear. 

Final criativo mas não gostei, como disse eu esperava mais.

Apesar dos meus desgostos, no geral achei uma leitura divertida. Dá pra viajar, dá pra se emocionar, mesmo se entediando em algumas passagens.
Tenho pra mim que o que nos faz suportar todos os altos e baixos da escrita de Sapkowski é o carisma dos personagens principais, Gerald, Yennefer e Ciri. Quando nos conectamos com um personagem, tendemos ir com ele até o fim do mundo para saber ele vai se dar bem ou não. Acompanhamos e torcemos e por isso seguimos juntos até o fim mesmo não estando cem por cento satisfeitos com o narrador. Foi uma leitura prazerosa, sem dúvida.

Não seguirei Geral nos games, mas quando a Netflix lançar a próxima temporada com certeza estarei lá acompanhando e torcendo pelo Bruxo e sua trupe. Quem sabe os produtores da série não dão uma repaginada básica e melhoram um pouco esses aspectos negativos da história? Fico na torcida para que sim.

 Sobre o autor:

Andrzej Sapkowski, nascido em 21 de junho de 1948) é um escritor de fantasia polonês. Ele é mais conhecido por sua série de livros The Witcher , que foi traduzido para 37 idiomas, tornando-o o segundo escritor polonês de ficção científica e fantasia mais traduzido depois de Stanisław Lem . Seus livros venderam mais de 15 milhões de cópias. Ele recebeu o Prêmio David Gemmell e o Prêmio World Fantasy Life Achievement .

Dicas:

1)    1) Fazer a leitura acompanhando o mapa do continente é de grande ajuda para compreender os deslocamentos dos personagens e também os avanços e retrocessos da guerra entre Nilfgaard e os reinos do Norte.  É possível baixar alguns modelos desenhados por fãs na internet.

             2) Para quem quiser se aprofundar na história e até mesmo jogar os games, sugiro pesquisar o artigo da Wikipédia em polonês. Tem muita informação detalhada sobre todo o universo de The Witcher.

  3) Para quem ficou com água na boca de saber o que aconteceu com Gerald e Yennefer depois de toda essa saga, segue aqui um link com o conto “Algo termina e Algo Começa”, que faz parte de uma coletânea que o autor escreveu posteriormente e em que é narrado o casamento de Yennefer e Gerald.

Embora "Algo termina, Algo começa" diz respeito a Geralt de Rivia , não está relacionado à saga Witcher e, ao contrário da nota da editora, não é um final alternativo para a saga, mas um trabalho completamente separado - como enfatiza ele mesmo, o autor.

 👉 https://wiedzmin.pl/wiedzmin-ksiazka/wiedzmin-opowiadania/cos-sie-konczy-cos-sie-zaczyna-opowiadanie

 

Boas leituras! Inté! 

Karina Guedes

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domingo, 24 de abril de 2022

NA IDADE MÉDIA, UMA MULHER OUSOU ESCREVER e o mundo nunca mais foi o mesmo.


O legado dessa mulher é apresentado em "Christine de Pizan – Uma Resistência", livro escrito por Lucimara Leite, professora e pesquisadora de literatura medieval na França e Portugal. Mestre em Comunicação e Semiótica, ela pesquisa sobre Christine de Pizan desde a graduação. Neste livro faz uma análise de “Cidade das Damas” e “O espelho de Christine”, revelando importantes aspectos dessas obras escritas na idade média por Christine de Pizan.

O recorte que Lucimara Leite faz neste trabalho, entre os séculos XIV e XV, chamado de baixa idade média, apresenta alguns aspectos dessa época relevantes para compreensão da obra de Christine de Pizan. Neste período, houve uma pequena abertura nas estruturas sociais da época e isso foi bom para as mulheres como um todo. As Cruzadas, A Guerra dos Cem anos, a Peste Negra, fizeram com que muitos homens ficassem fora por longos períodos e isso fazia com que as mulheres tivessem que assumir a administração das casas e das propriedades, assumindo papéis de lideranças em suas províncias. O que vai chamar atenção para a “necessidade” da educação delas.

O livro está estruturado em três capítulos:

No capítulo I, a autora faz uma breve introdução do momento histórico e dos tipos de textos que circulavam na época (idade média, séculos XIV e XV). Explica as diferenças e semelhanças entre os tratados de educação vigentes : specula exempla. E esclarece como era a imagens da mulheres retratada por outros autores.

Specula (espelhos) – Tratados dos príncipes. Visavam a educação dos garotos, principalmente delfins e aspirantes ao trono ou senhorio. Trazia educação moral mas principalmente administrativa e política, basicamente eram manuais de como governar. Tinham forte cunho político e são considerados como os primeiros documentos de educação pedagógica. A figura do herói estava sempre presente aqui.

Exempla – Manuais de educação com foco na conduta moral. Tinham forte cunho doutrinador. Traziam histórias cujos personagens e suas posturas deveriam ser imitados. Todos baseados na moral cristã. Traziam histórias curtas de mártires e santos, muitas vezes apresentadas como contos, fábulas, anedota, narração verdadeira ou lendária, etc. Destinados as pessoas mais simples (menos letradas) e o intuito era passar um modelo de comportamento. 

No capítulo II ,  é apresentado a estrutura e descrição das duas principais obras de Christine de Pizan, A Cidade das Mulheres (Livre de la cité des dames) e O livro das três virtudes (Le Livre des Trois Vertus). Assim como a recepção que Christine teve em sua época e o impacto de seus textos.

No capítulo III, traz a argumentação da autora que considera o trabalho de Pizan um exemplo de resistência feminista na idade média. Faz um breve resumo da educação dos séculos XII e XV e compara os textos de Christine com o de outros autores homens. Apresentando os pontos em comuns entre os dois principais textos de Christine.

Com uma linguagem bem didática, o livro é uma excelente introdução à obra e ao pensamento de Christine de Pizan. Nos permitindo ter uma ideia geral do que ela defendia e acreditava ser o ideal de educação para as mulheres neste período medieval.


Mas quem foi Christine de Pizan?

Christine de Pizan, nasceu em Veneza, Itália em 1364. Mudou-se com sua família para Paris, França, aos 4 anos de idade, quando seu pai foi convidado a trabalhar na corte do rei Carlos V. Sob a orientação de seu pai, teve acesso à educação e graças a posição exercida por ele na corte ela teve acesso à biblioteca do rei, considerada uma das melhores na época. O que contribuiu muito para sua formação intelectual. Casou-se aos 15 anos com um marido escolhido pelo seu pai.

Nos anos seguintes, com a morte do rei a França passa por momentos difíceis e a família de Christine também, em 1386 seu pai morre e três anos depois falece seu marido com quem viveu por dez anos e segundo ela, um casamento feliz. Neste momento sua posição social muda e Christine se torna a provedora da família. Decide não se casar e sustentar sua família com o próprio trabalho como escritora. Começa seu ofício literário escrevendo poesias e com a boa recepção de seus textos dedica-se inteiramente à produção literária que passa a ser sua fonte de renda.

Ela era conhecida por criticar a misoginia presente no meio literário da época, predominantemente masculino e defender o papel vital das mulheres na sociedade. Foi a primeira mulher na França a viver do seu trabalho como escritora.

  

O que Christine de Pizan defendia?

Importante lembrar que a Idade Média foi um período em que o pensamento teocrático e aristotélico influenciou toda a organização social da época, desde os regimes de poder vigentes até a conduta moral da sociedade. Neste período, a igreja católica detém certo poder e influência sobre o clero e senhores feudais. As mulheres são vistas apenas como procriadoras e seu lugar é sempre abaixo dos homens, maridos, pais, irmãos e filhos homens. O acesso à educação era dado apenas às mulheres de classes mais abastadas e ainda assim, voltado para ensinamentos de boa conduta moral e social, cuidado com filhos e casamento. Não se incentivava o desenvolvimento intelectual delas.

É neste contexto que Christine de Pizan escreve suas obras que chamam a atenção por trazer para o campo da escrita e das discussões intelectuais, as questões das mulheres.

 

Ela defendia a igualdade entre homens e mulheres no que diz respeito a educação, afirmava que as meninas também tinham direito de receber educação intelectual assim como os meninos e não apenas educação moral como era comum na época.

 

Fez críticas aos manuais de educação para o casamento, que por serem escritos por homens não traziam as verdades da dura e injusta vida conjugal para as mulheres.

 

Defendeu que as diferenças entre homem e mulher eram de ordem social e não biológica.


Christine lutou contra a misoginia e a favor da valorização da mulher. Tendo como objetivo estabelecer uma "moral feminina". Assim, ela participa da "Primeira Querela Feminista" e como escritora assume publicamente seu posicionamento escrevendo contra o "Roman de la Rose", de Jean de Meung, "um dos livros mais populares na Europa no século XIII, de cunho misógino, representando as mulheres como nada mais que sedutoras, numa mordaz sátira às convenções do amor cortês." (1)

 

Suas obras de maior repercussão foram "A Cidade das Mulheres" e " O Livro das três virtudes".

 

No livro A Cidade das Mulheres, Christine usa de alegorias para trazer uma reflexão sobre a representação da mulher na sociedade e combater a misoginia dos textos da época. Ela constrói uma cidade para as mulheres e cada parte da cidade é representada pelas grandes mulheres da história, da mitologia e da vida real, até aquele momento. Poderíamos dizer que esta é a primeira tentativa de escrever uma “História das mulheres”.

 

Sabemos que desde os primórdios da escrita, quem escrevia e detinha o poder da palavra eram os homens. E toda a história conhecida até então, era história escrita por eles. Homens que usaram tal poder para denegrir a imagem da mulher e assim contribuir para a disseminação da misoginia.  Nos textos masculinos as mulheres aparecem sempre como sedutoras, frágeis, incapazes e prontas para sempre ludibriar os sentimentos masculinos. Nas histórias dos homens dessa época eles são sempre as vítimas e as mulheres as "demônias".  

 

Christine de Pizan escreve na contramão deste padrão. Ela tenta mudar a mentalidade da época e sua voz encontra eco naquele exato momento histórico onde começava, ainda que minimamente, uma abertura para as mulheres se colocaram nas sociedades como sujeitos de suas vidas. Existia ali uma faísca de grito de liberdade e ela acendeu a chama.

 

Através das figuras principais de sua cidade fictícia, ela vai construindo um novo olhar a medida que derruba os principais preconceitos contra as mulheres. 

 

Ressalta a importância da fala feminina e a escuta desta fala. Numa época em que as mulheres são acusadas de falar demais (de modo leviano), aqui a escritora dá ênfase a sabedoria feminina que se expressa pela fala.

 

No último capítulo, se dirige a todas as mulheres das camadas sociais. É interessante notar que ela não divide as mulheres apenas em casadas, solteiras ou viúvas e sim entre mulheres pobres e ricas.  A hierarquia que ela apresenta está baseada na condição social e não no estado civil.

 

 

Já em O Livro das Três Virtudes, encontramos basicamente um manual de educação moral religiosa e boas maneiras dirigido para as mulheres. A diferença deste tratado de educação de Christine para o de outros autores da época que se desdobraram em cima do mesmo tema, é que aqui ela dá instruções das mais básicas as mais específicas, no que diz respeito a organização e manutenção da vida doméstica, considerando a hipótese de que as mulheres pudessem viver sem maridos (tanto os que foram à guerra ou os que morreram) , sendo donas de sua casa e propriedade, com autonomia para decisões e gerenciamento do lar. Enquanto os autores homens sempre vão orientar a buscar um homem (pai, irmão, tutor, marido) para substituir o que está ausente, deixando a mulher sempre na condição de tutelada e nunca de autônoma.

 

Valendo-se de recursos linguísticos da época para estruturar o seu texto e sua argumentação, ela usa sua própria experiência como exemplo, partindo da realidade para construir um modelo. Vai se destacar também na maneira de passar esses ensinamentos, considerando a inteligência e astúcia de seu público, não sendo prolixa e redundante como os escritores homens que escreviam para o público feminino como se estivessem escrevendo para um público débil. 

 

Um ponto a ser observado aqui é que apesar de visionária, Christine era religiosa e defendia a hierarquia social, assim como a submissão da mulher ao casamento. Boa parte de seus ensinamentos no Espelho de Cristina, vão conduzir um esforço para manter a harmonia da vida conjugal. 

 

Apesar de parecer contraditório esse discurso se comparado ao primeiro livro, é preciso considerar todo o contexto histórico para entender esse posicionamento de Christine. Afinal, a escritora viveu numa época em que a violência contra as mulheres era aceita e regulamentada. Os maridos detinham não apenas a tutela, mas o poder sobre a vida de suas esposas, sendo livres para puni-las com a morte em casos de desobediência ou desonra. Elas eram sua propriedade. Então, quando Christine argumenta para que as mulheres mantenham a harmonia em seus casamentos, estaria de certa forma ensinando-as a se protegerem das possíveis violências dentro daquelas circunstâncias.

 

Esses ensinamentos que para nós mulheres letradas do século XXI, podem parecer insuficientes ou contraditórios. Mas também nos mostram o quão difícil, sofrida e limitada era a vida das mulheres naquele período. Ser propriedade de um homem, antes de ser sujeito de sua própria vida é por demais assustador e revoltante.

 

No entanto, se refletirmos obre os nossos dias constataremos muitas correntes que ainda prendem as mulheres privando-as de alguma liberdade. A dependência financeira, falta de equidade no mercado de trabalho, os assustadores números de registros da violência doméstica e os aumentos de casos registrados de feminicídio, são alguns exemplos. Parece que em certos aspectos, sobretudo no que diz respeito à violência contra as mulheres, as coisas não mudaram tanto assim desde a idade média.

 

O Legado de Christine de Pizan - Influências posteriores

 

Suas ideias foram retomadas na virada dos séculos XIX ao XX, quando os movimentos sufragistas resgatam suas ideias. (Talvez isso explique, em partes, a visão burguesa e conciliadora do movimento sufragista).

 

Christine foi uma intelectual, visionária, ativista, porém conciliadora. Ela queria que as mulheres fossem valorizadas e não libertadas. Ocupar lugar de igualdade entre os homens não significa necessariamente revolucionar, afinal, ela escrevia para todas, mas sua literatura era consumida pelas classes mais abastadas e letradas.  As mulheres de classes mais abastadas, tendem a defender a valorização das mulheres somente no que tange sua classe. Nunca estiveram preocupadas de verdade com a vida de suas vassalas. Logo, fazem o possível para manter as hierarquias estabelecidas. Em resumo, mulheres ricas vão sempre defender mulheres ricas.


Apesar deste último ponto que considero interessante observarmos com criticidade e refletir sobre isso, devemos reconhecer a ousadia e astúcia de Christine de Pizan na Idade Média. Afinal, considerando todo o contexto em que ela vivia e sendo uma mulher de classe abastada e de família respeitada, não teria grandes dificuldades para conseguir um segundo marido e manter sua vida burguesa. Mas ela não o fez, preferiu encarar o desafio de sobreviver do próprio suor e ainda com a audácia de se engajar numa área dominada pelos homens, a escrita.  Seu mérito está não somente na criatividade e perspicácia de seus livros, mas na coragem de ter decidido escrevê-los e assim registrar um momento único na história, onde as mulheres começam a resgatar suas vozes tão silenciadas nos séculos anteriores, principalmente pelo discurso religioso. E o irônico disso tudo é que ela vai usar justamente a moral religiosa para cativar seu público e se fazer ouvir.

 

Por se tratar da obra de uma das percursoras do que hoje chamamos de pensamento feminista ou movimentos feministas, o trabalho de Christine de Pizan  é um registro raro na história. Ela precisa ser conhecida, lida, estudada. Sua vida e obra são de enorme importância para conhecermos o percurso histórico do movimento feminista e a trajetória da conquista de um dos mais importantes direitos adquiridos até agora, o direito de saber ler e escrever, ou seja,  o acesso à educação intelectual para as mulheres.

E todo trabalho que venha esclarecer e enfatizar essa importância, deve ser lido e estudado. Logo, o trabalho de Lucimara Leite, autora de “Christine de Pizan, Uma Resistência” é essencial para qualquer um que pretenda compreender o feminismo e as trajetórias de lutas das mulheres ao logo da história. Considero simplesmente uma leitura obrigatória!

Boas leituras e Boas reflexões!

Inté!

Karina Guedes

@okarapoetica


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segunda-feira, 8 de março de 2021

COMO CONVERSAR COM UM FASCISTA - Reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro - Marcia Tiburi


Já perceberam como é difícil conversar com quem tem resposta pronta pra tudo? Tipo aquela pessoa que só fala, fala, fala, fala e quando raramente deixa você falar, ela nem te ouve e até te interrompe para refutar sua fala com seus argumentos prontos e engessados. Esta pessoa que não está a fim de dialogar e sim de se autoafirmar e precisa de plateia, de público que escute e de preferência balance a cabeça em sinal de sim. Por isso, a pessoa fica irritada incomodada, com raiva, de quem discorda dela. Acho que todos nós já passamos por esse desafio, de tentar conversar com quem não quer ouvir. Situação constante em nosso cotidiano e que se torna terreno fértil para o discurso de ódio, para a intolerância e violência de todos os tipos.

"O fascista não consegue relacionar-se com outras dimensões que ultrapassem as verdades absolutas nas quais ele afirmou seu modo de ser. Sua falta de abertura, fácil de reconhecer no dia a dia, corresponde a um ponto de vista fixo que lhe serve de certeza contra pessoas que não correspondem à sua visão de mundo preestabelecida."

Primeiro a autora defende a linguagem como construção do pensamento, a importância do diálogo, da política como exercício da ética, em seguida faz uma critica reflexiva e pontual ao discurso autoritário desse momento da nossa sociedade contemporânea. Em capítulos curtos e uma escrita fluída a autora propõe reflexões sobre linguagem, as relações de amor e ódio que permeiam o desenvolvimento humano e as condições sociais, redes sociais e a proliferação e consumo em massa do senso comum, democracia, narcisismo, dentre outros temas. O livro é amplo em reflexões sobre discurso e poder. A partir de assuntos urgentes para nosso momento político atual, são feitas análises desse nosso modo de se comunicar ou da ineficiência dele. 

" Do mesmo modo, a questão é também pensar o ato político como ato linguístico (sendo que todo ato linguístico é político) e perguntar o que estamos fazendo quando estamos dizendo coisas uns aos outros. Porque que não existe política nem a forma antipolítica, que é o fascismo, sem práticas linguísticas, que constroem ou destroem a política. "

Neste momento em que a gritaria das redes sociais se faz presente, a surdez ao diálogo torna-se uma doença quase viral e a cegueira para a diversidade de pensares nos torna autoridade máxima em discursar sobre o que não somos capazes de ver ou compreender em profundidade. 

"Preferimos viver no espelho porque ver de verdade sempre incomoda. Ou viver sem espelho algum, pois o que nele aparece, se não nos agrada, é melhor fingir que não se viu. Por isso, a ilha parece nos proteger. Nos proteger em um cancelamento da vida que é o individualismo...Na ilha de nós mesmos nos defendemos dos sons que vêm da ilha alheia. Assim parece tudo mais fácil. "

Em nosso atual cenário, onde mais de 70% da população brasileira não lê livros, a educação pública precarizada/sucateada, a maioria das pessoas, as massas assim dizendo, se afogam em tsunamis de informações, desinformações e fake news via redes sociais ,televisão e rádio, pois são sua únicas fontes. O diálogo é colocado como proposta de resistência ao autoritarismo imposto pelo fascismo em ascensão.

 “ Se nosso ser político se forma em atos de linguagem, precisamos pensar nessa formação quando o empobrecimento desses atos se torna tão evidente. O autoritarismo é o sistema desse empobrecimento. Ele é o empobrecimento dos atos políticos pela interrupção do diálogo. Interrupção que se dá, por sua vez, pelo empobrecimento das condições nas quais o diálogo poderia acontecer. Essas condições são matérias e concretas... A linguagem está fora e dentro das pessoas, forjando-as e sendo forjada por elas. O diálogo é uma atividade que nos forma e que é formada por nós. É um ato linguístico complexo capaz de promover ações de transformação em diversos níveis. “

Um livro totalmente pertinente para os nossos dias. Um convite irrecusável à refletirmos sobre a origem e “necessidades” do discurso de ódio tão em voga, principalmente nas redes sociais. No hipotético modo de como conversar com um fascista, a autora vai capítulo a capítulo nos convidando a refletir sobre questões básicas que estão ligadas diretamente ou indiretamente ao desenvolvimento desse pernicioso comportamento em nosso cotidiano brasileiro. Conversar com um fascista é um título irônico, que nos surpreende pelo seu sentido quando concluímos a leitura.


SOBRE A AUTORA:

Marcia Tiburi é professora na Universidade Paris 8, na França. Autora de diversos livros, entre os quais Filosofia Prática, ética, vida cotidiana, vida virtual (Record, 2014), Feminismo em Comum (Rosa dos Tempos, 2018), e Complexo de Vira-Lata – Análise da humilhação brasileira (Civilização Brasileira, 2021). 

Marcia Tiburi é Graduada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1991) e em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996), mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1994) e doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999) com ênfase em Filosofia Contemporânea, e fez pós-doutorado em Artes pelo Instituto de Artes da UNICAMP. 

Ela publicou diversos artigos em revistas acadêmicas, jornais e revistas de cultura e lecionou em diversas universidades brasileiras, bem como em cursos livres da Revista Cult, Casa do Saber, Escola Kope entre outras.

É considerada uma das grandes pensadoras brasileiras da atualidade. 


Boas leituras e boas reflexões! 💪🏾🌹


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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

A SUCESSORA X REBECCA e a questão do plágio.


 Sobre a polêmica que envolve o romance Rebecca e A sucessora, deixo aqui algumas observações a respeito para refletirmos juntos. Longe de ser um parecer ou um julgamento, trata-se apenas da opinião de quem leu intensamente os livros.

    A primeira impressão que tive foi de que apesar de terem elementos muito parecidos, são histórias diferentes. O desenvolvimento de cada uma delas é totalmente diferente e o desfecho também. Ambas são ótimas histórias, que trazem questões interessantes sobre determinada época do Brasil e da Inglaterra, mas que são épocas diferentes também, assim como as questões levantadas por cada narrativa. Quanto mais eu tentava ver semelhanças, mais diferenças encontrava. 

    Para ter outras referências, li também Encarnação de José de Alencar que foi escrito em 1893, ou seja, bem antes dos dois romances citados. O que achei mais incrível é que para mim pareceu haver mais semelhanças entre Encarnação e Rebecca, do que entre Rebecca e A sucessora. O final então é surpreendente, as duas histórias (Encarnação e Rebecca) terminam com um incêndio da casa, cena icônica e muito simbólica.

    Assim como muitos leitores fiquei intrigada com a semelhança desses romances e fui investigar mais a fundo a questão e para minha surpresa descobri que "o fantasma da segunda esposa" é um tema recorrente em romances do séc. XIX e começo do séc. XX, e acontece muitas semelhanças entres outros livros mais antigos além desses, e curioso é que geralmente são histórias escritas mais por mulheres do que por homens. Esse é um bom tema a ser explorado e investigado, mas para isso é necessário dispor de tempo para ler tantas obras e estudá-las com cuidado, para não correr o risco de fazer julgamentos precipitados, supérfluos e rasos. Infelizmente não disponho desse tempo agora, mas deixarei essa pista para ser seguida em outro momento mais adiante.

    E sobre a suposta questão do plágio, sinceramente acabei me esquecendo dela. Porque ao mergulhar na leitura desses três livros de temática tão interessante, várias questões sobre relacionamentos, o papel da mulher na sociedade delimitado pelo patriarcado, a instituição casamento, a hipervalorização da maternidade, independência feminina, vilania, feminicídio, etc. , acabaram sendo muito mais interessantes de pensar e debater do que descobrir quem copiou o que de quem. Para mim isso se tornou irrelevante no final das contas. 

    Acredito que a literatura é acima de tudo um diálogo.  Uma troca de inspirações, ideias e inovações. Acho que não cabe a mim, mera leitora sentenciar quem está certo ou errado nessa questão do suposto plágio. A própria Carolina Nabuco, mesmo tendo todas as condições de encarar um processo jurídico e reivindicar alguma coisa a respeito, desistiu de fazê-lo. Talvez essa questão nem fosse tão importante para ela, como tem sido para muita gente que descobre o fato. Ou talvez, depois de muitos anos tenha se arrependido de não ter levado o processo adiante e por isso resolveu denunciar o ocorrido em sua autobiografia. Provavelmente nunca saberemos. Então, penso que levantar julgamentos, determinar sentenças, ser advogado ou juiz de uma escritora ou de outra, acaba nos tirando a atenção daquilo que realmente importa enquanto leitores, o prazer de ler as obras.

    Caso você tenha chegado a esse post e não leu ainda as resenhas que fiz de cada um dos livros acima, clica no nome de cada livro para ler minhas impressões. Fique à vontade para comentar e compartilhar as suas.

ENCARNAÇÃO

A SUCESSORA

REBECCA

Inté! Boas leituras para nós!


Karina Guedes

@okarapoetica

REBECCA - Daphne Du Maurier

Rebecca, é um romance escrito por Daphne Du Maurier  (publicado em 1939), escritora inglesa que se tornou conhecida no mundo inteiro pelo seu talento para contar histórias impactantes e também por ter tido algumas de suas obras adaptadas para o cinema por grandes diretores como Alfred Hitchcok.

    A história é narrada por uma personagem sem nome, que trabalha como dama de companhia para uma rica senhora norte-americana, Mrs. Van Hopper. E durante uma viagem ao sul da Itália,  a narradora conhece por acaso Maxim Winter, um rico viúvo por quem se apaixona depois de passar quinze dias na companhia dele em passeios românticos, quase secretos. Maxim a pede em casamento para o choque de Mrs. Van Hopper e depois de uma lua de mel pela Europa, eles vão morar na Inglaterra, na famosa mansão Menderley, propriedade da família de Maxim Winter. E ali a protagonista/narradora vai viver dias bem tumultuados na tentativa de se tornar a nova Mrs. Winter. Pois, a finada esposa Rebecca era uma mulher muito admirada e adorada por todos a sua volta e sua presença marcante está em todo lugar, assim como nas lembranças daqueles que a conheceram que e frequentaram Menderley em seus anos gloriosos. Assombrada por essa presença e também pela antipatia da governanta Mrs. Denvers, a protagonista enfrenta desafios diários para tentar agradar o marido e ocupar um lugar na alta sociedade que agora frequenta, mas sente não ser legitimamente o seu. 

    Até aqui não temos muitas novidades, lembra o velho conto da  gata borralheira adaptado. Mas o que vai tornar essa história diferente de outras que também abordam a temática da segunda núpcias de um homem rico, é o desenvolvimento que Daphne Du Maurier cria para ela. A autora transforma esse suposto conto de fadas já batido numa história apavorante, cheia de mistério e com um final sinistro. Talvez por isso tenha se destacado dentre tantas outras histórias com temática semelhante. 

    Daphne é uma autora bem descritiva e sua narrativa nos leva a mergulhar no ambiente da história, que ora é de suavidade, ora de tensão e mistério. A maneira como descreve Menderley, com todos os seus jardins, bosques e costa faz com que a mansão nos pareça uma personagem tão viva como os demais. Esse é outro ponto muito positivo de sua narrativa, ela é envolvente e faz você mergulhar na história, principalmente se você gosta de histórias com ênfase em paisagens. Ela vai do lusco-fusco de uma alvorada de primavera, ao luz do luar do verão numa noite de lua cheia, descrevendo tudo com detalhes.

    Achei bem diferente da maioria dos romances do séc XIX que eu estava habituada ler. Esse livro geralmente é classificado como um romance gótico e de fato tem muitos elementos desse gênero, o que faz de um enredo aparentemente simples, um instigante suspense. O que mais gostei na narrativa,  foi justamente as viradas de enredo, que dão bastante emoção para história alimentando a curiosidade pelo desfecho, o que nos leva a ler com certa velocidade. Certamente, uma narrativa bem elaborada com personagens bem construídos. 


POSSÍVEIS LEITURAS

    Deixo aqui algumas observações que acho que valem a pena prestar atenção nessa história, lembrando que essa é a minha leitura, cada um pode e deve fazer a sua. Prometo me esforçar para não dar spoilers, mas alguns pontos são inevitáveis de se comentar para poder expor minha opinião sobre a obra.

    Apesar dessa história, ser vendida como uma história de amor, particularmente não vi bem assim. Pra mim trata-se de um belo exemplo de uma relação abusiva, com direito a crime passional e tudo mais. É muito mais trágica do que romântica, um bom thriller. 

    Desde o começo me incomodou muito a figura do marido. Cara estranho, rude, mau humorado, quase um bipolar. Suas mudanças repentinas de humor, fazem dele uma figura sinistra desde o início. Fica claro que há algo de muito errado com ele e no final confirmamos isso. Mesmo considerando que talvez esses traços da personalidade poderiam ser pistas deixadas propositalmente pela autora para nos fazer entender lá no final as atitudes dele, me incomodou bastante durante a leitura. Tive raiva dele do começo ao fim. Lia e pensava, que cara insuportável! Quem aguentaria casar um tipo desses? Aff! 

    Tem outro detalhe sobre o personagem Maxim de Winter que observei depois de ver os dois filmes adaptados desse livro. Ele não foi tão bem representado no cinema em nenhuma dessas versões de Rebecca. Acho que sua personalidade obscura foi um pouco suavizada, até mesmo no famoso filme do Hitchcock, que mudou consideravelmente o final da história. O que Maxim faz e que o torna esse ser esquisito, não foi por acaso como é mostrado no filme. Ele tem consciência do que faz e é movido por um ódio reprimido. Tanto que no final do livro ainda diz que está satisfeito pelo que fez e se tivesse que fazer novamente, o faria do mesmo modo. O cinema (versão de 1940 e a recente de 2020) suavizou muito esse ponto.

    E não se trata aqui da velha questão filme x livro, até porque pra mim essa questão não existe, cada linguagem tem seus meios de nos contar uma história. Mas é inevitável observar essas diferenças e analisar as soluções encontradas para elas. A meu ver a solução que Hitchcock encontrou para explicar os atos de Maxim, foi uma solução machista e que na minha avaliação compromete a interpretação da história. 

    Agora sobre a personagem narradora que não tem nem nome, mas vamos chamá-la de Madmoiselle, como se referem a ela no livro. Quem é ela? É uma moça pobre, órfã, sonhadora e excessivamente imaginativa. Tudo ela imagina, antecipa, fantasia...é insuportavelmente insegura, ingênua e carente.  Uma parte desse excesso de insegurança pode até estar relacionada com o fato de ser muito jovem, uma vez que insegurança e juventude tem tudo a ver, mas ainda sim chega a ser insuportável o quanto essa insegurança a torna dependente emocionalmente de Maxim, resultando numa relação abusiva. Pois, ele a subjuga o tempo todo, tem atitudes machistas e egoístas, só pensa em seus próprios problemas. Valoriza demais a juventude, a ingenuidade numa mulher e critica posturas femininas mais firmes, mais maduras. E o que nossa protagonista faz? Aceita tudo isso e ainda pede perdão, numa postura completamente submissa.  Eu particularmente, não chamaria isso de amor. Mas o momento em que ela decepciona mesmo é quando se torna cúmplice de Max em dado momento da história. O que nos leva a observar o contraponto entre as “esposas”. Já que Rebecca,  a finada, era muito madura, decidida e de personalidade forte, o oposto de Madmoiselle, enfrenta Maxim.

    A personagem Rebecca, que dá nome ao romance e que só conhecemos através dos relatos de outros personagens, no começo nos parece apenas mais uma típica mulher da alta sociedade. A senhora de Menderley, cujo bom gosto e simpatia a tornaram adorada e admirada por todos. Se vestia muito bem, muito elegante e organizava bailes memoráveis, uma anfitiã de alto nível. Porém, é no relato de Mrs. Denvers e na confissão Maxim, que vamos conhecer Rebecca mais detalhadamente. E vamos compreender porque ela era essa mulher tão intensa e sedutora, que nem a morte e nem o tempo apagou sua presença.

    E aqui coloca-se uma questão interpretativa bem interessante do enredo, pois se você olhar para Rebecca com os olhos de Mrs. Denvers conhecerá uma mulher muito à frente de seu tempo e da hipocrisia da sociedade que a cerca. Revelando-se uma mulher de personalidade forte, intensa, sensual e decidida a viver sua sexualidade. E sendo consciente do lugar que a sociedade reserva às mulheres, decide zombar na cara da burguesia inglesa, usando Maxim e Menderley para isso. Uma mulher que faz o que quer, não se prende às convenções sociais, é ousada como muitos homens se julgam no direito de ser. 

    No entanto, se olharmos para Rebecca com olhos de Maxim, ela não passa de uma manipuladora cruel, interesseira, autoritária. E talvez, justamente por isso tenha morrido, por ser uma mulher que ousava tomar decisões e desafiava e atacava o marido. 

    Há quem julgue Rebecca e há quem a ame. Essa provocação plantada no enredo, dá um tom bem desconcertante na história. Se foi proposital, ou não, fica difícil saber. Mas ao ler com cuidado, a enxergamos e isso apimenta a leitura. 

    Esse tom provocativo no acompanha do começo ao fim, numa linguagem  que apresenta certas formalidades nos diálogos devido à época e posição social dos personagens principais, porém fluida.  E para nos prender a autora cria situações bem conflituosas, parte delas como fruto da imaginação de Madmoiselle, e parte como pistas para os mistério que envolve Rebecca. E como todo bom suspense, tem um final surpreendente. 


REFLEXÕES PARA ALÉM DO FANTASMA DA SEGUNDA ESPOSA

    Esse livro traz um enredo bem construído, cheio de detalhes e questões que servem de gatilho para vários debates sobre a condição das mulheres ontem e hoje, sobre família e propriedade. Ficaria difícil comentar todos os pontos relevantes numa resenha só, portanto coloquei aqui o que achei mais impactante na leitura. Mas obviamente, é possível extrair muito mais. O que torna essa leitura interessante pra além da diversão, nos fazendo pensar e discutir questões sociais que tangem nossa realidade. Ler por diversão é muito bom, mas ler e refletir os temas da história é melhor ainda.

    Bem e daí você pode estar pensando, ah mais tudo bem estamos falando de uma história contada no século passado, hoje em dia as coisas não são mais assim. Só que não. E é justamente por isso, que precisamos ler e discutir Rebecca. 

    Aparentemente, as questões e valores colocados na história são do século passado, meras  representações dos costumes e do papel da mulher naquela época. Porém, essa visão do papel da mulher na sociedade vem mudando, devagar mas vem, afinal já não se pode dizer que o papel da mulher é servir ao marido, como se dizia há séculos atrás. Por esse prisma, se nos atentarmos para as questões mais profundas do enredo como dependência emocional, dependência financeira, casamento de aparências, liberdade sexual feminina, o dilema do divórcio e feminicídio, estaremos tratando de questões bem atuais. É claro que no livro tudo isso é bem romantizado e floreado, tanto que essa história é vendida até hoje como “uma deliciosa história de amor", quando não é. Por isso, precisamos ler, discutir e rever nossos conceitos sobre esses temas e talvez esse tipo de romance possa ser uma boa porta de entrada para debates mais profundos.


OBSERVAÇÃO

Sobre a suposta questão do plágio que Daphne Du Maurier teria feito do livro A Sucessora de Carolina Nabuco (resenha aqui) e que ela comenta em seu livro de memórias (Oito décadas), escrevi outro texto somente sobre isso, que você pode LER AQUI.

Nesta resenha fiz questão de dar ênfase a minha leitura e  interpretação da obra Rebecca, por ter encontrado nesse romance muitos temas pertinentes para reflexão e debate sobre muitas questões sociais tão pungentes em nossos dias. 

Recomendo também ler a resenha de Encarnação, de José de Alencar (resenha aqui).


SOBRE A AUTORA

Daphne du Maurier nasceu em Londres, Inglaterra, a  de maio de 1907. . Filha de Gerald Du Maurier, famoso ator inglês, e neta de George Du Maurier, escritor de renome, Dapnhe foi criada e educada dentro do lar, segundo os padrões comuns às famílias abastadas da época. 

Aos dezoito anos viajou para Paris, onde permaneceu durante seis meses, aprendendo a língua e literatura francesa. Na adolescência, escrevia contos e poemas, revelando influências de Katherine Mansfield, Mary Webb e Guy de Maupassant.Ao longo de sua carreira, escreveu mais de vinte obras, entre as quais se destacaram: Jamaica Inn (A Pousada da Jamaica), em 1936; Rebecca, em 1939, The King's General (O General do Rei), em 1946; e The Parasites (Os Parasitas), em 1949, dentre outros.

Nos últimos anos de vida, deixando de lado os temas basicamente sentimentais, procurou desenvolver outros gêneros. Assim, dentro da ficção científica, escreveu o conto The Birds (Os Pássaros), onde as aves se organizam e questionam o domínio do homem sobre a natureza, e The House on the Strand (O Espião do Passado), onde utiliza o tema da viagem através do tempo.

Grande parte da sua obra foi adaptada para o cinema, principalmente pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock, que filmou Jamaica Inn, The Birds e Rebecca , pelo qual ganhou um Oscar de melhor argumento adaptado.

Daphne Du Maurier foi nomeada Dama do Império Britânico.

Karina Guedes
@okarapoetica