Primeiro a autora defende a linguagem como construção do pensamento, a importância do diálogo, da política como exercício da ética, em seguida faz uma critica reflexiva e pontual ao discurso autoritário desse momento da nossa sociedade contemporânea. Em capítulos curtos e uma escrita fluída a autora propõe reflexões sobre linguagem, as relações de amor e ódio que permeiam o desenvolvimento humano e as condições sociais, redes sociais e a proliferação e consumo em massa do senso comum, democracia, narcisismo, dentre outros temas. O livro é amplo em reflexões sobre discurso e poder. A partir de assuntos urgentes para nosso momento político atual, são feitas análises desse nosso modo de se comunicar ou da ineficiência dele.
" Do mesmo modo, a questão é também pensar o ato político como ato linguístico (sendo que todo ato linguístico é político) e perguntar o que estamos fazendo quando estamos dizendo coisas uns aos outros. Porque que não existe política nem a forma antipolítica, que é o fascismo, sem práticas linguísticas, que constroem ou destroem a política. "
Neste momento em que a gritaria das redes sociais se faz presente, a surdez ao diálogo torna-se uma doença quase viral e a cegueira para a diversidade de pensares nos torna autoridade máxima em discursar sobre o que não somos capazes de ver ou compreender em profundidade.
"Preferimos viver no espelho porque ver de verdade sempre incomoda. Ou viver sem espelho algum, pois o que nele aparece, se não nos agrada, é melhor fingir que não se viu. Por isso, a ilha parece nos proteger. Nos proteger em um cancelamento da vida que é o individualismo...Na ilha de nós mesmos nos defendemos dos sons que vêm da ilha alheia. Assim parece tudo mais fácil. "
Em nosso atual cenário, onde mais de 70% da população brasileira não lê livros, a educação pública precarizada/sucateada, a maioria das pessoas, as massas assim dizendo, se afogam em tsunamis de informações, desinformações e fake news via redes sociais ,televisão e rádio, pois são sua únicas fontes. O diálogo é colocado como proposta de resistência ao autoritarismo imposto pelo fascismo em ascensão.
“ Se nosso ser político se forma em atos de linguagem, precisamos pensar nessa formação quando o empobrecimento desses atos se torna tão evidente. O autoritarismo é o sistema desse empobrecimento. Ele é o empobrecimento dos atos políticos pela interrupção do diálogo. Interrupção que se dá, por sua vez, pelo empobrecimento das condições nas quais o diálogo poderia acontecer. Essas condições são matérias e concretas... A linguagem está fora e dentro das pessoas, forjando-as e sendo forjada por elas. O diálogo é uma atividade que nos forma e que é formada por nós. É um ato linguístico complexo capaz de promover ações de transformação em diversos níveis. “
Um livro totalmente pertinente para os nossos dias. Um convite irrecusável à refletirmos sobre a origem e “necessidades” do discurso de ódio tão em voga, principalmente nas redes sociais. No hipotético modo de como conversar com um fascista, a autora vai capítulo a capítulo nos convidando a refletir sobre questões básicas que estão ligadas diretamente ou indiretamente ao desenvolvimento desse pernicioso comportamento em nosso cotidiano brasileiro. Conversar com um fascista é um título irônico, que nos surpreende pelo seu sentido quando concluímos a leitura.
SOBRE A AUTORA:
Marcia Tiburi é professora na Universidade Paris 8, na França. Autora de diversos livros, entre os quais Filosofia Prática, ética, vida cotidiana, vida virtual (Record, 2014), Feminismo em Comum (Rosa dos Tempos, 2018), e Complexo de Vira-Lata – Análise da humilhação brasileira (Civilização Brasileira, 2021).
Marcia Tiburi é Graduada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1991) e em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996), mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1994) e doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999) com ênfase em Filosofia Contemporânea, e fez pós-doutorado em Artes pelo Instituto de Artes da UNICAMP.
Ela publicou diversos artigos em revistas acadêmicas, jornais e revistas de cultura e lecionou em diversas universidades brasileiras, bem como em cursos livres da Revista Cult, Casa do Saber, Escola Kope entre outras.
É considerada uma das grandes pensadoras brasileiras da atualidade.
Boas leituras e boas reflexões! 💪🏾🌹
-------------------------------------------
#leiamulheres
#marciatiburi
#escritoras
#comoconversarcomumfascista
#filosofia
#política
#resenhas