terça-feira, 31 de março de 2020

A REVOLUÇÃO DAS MULHERES - Graziela Schneider (org.)

Muito mais que um livro sobre escritoras pouco conhecidas, A Revolução das Mulheres é um verdadeiro dossiê sobre a emancipação feminina na Rússia socialista e também uma excelente introdução para a compreensão de todo o processo, que com a efetiva participação das mulheres, consolidou as bases para as Revoluções 1917.

Neste livro organizado por Graziela Schneider, encontramos artigos, atas, panfletos, ensaios escritos por importantes mulheres antes e depois da revolução. Traduzidos diretamente do Russo para o português, e isso faz toda a diferença, pois podemos acessar com mais acertividade (e pouca chances de má interpretações) as genuínas ideias defendidas por grandes nomes da revolução como Alexandra Kollontai, Nadejda Krupskaia, entre outras.
Cada texto nos revela aos poucos a dimensão da siginifcativa e fundamental presença das mulheres em todo o processo que levou a Rússia à Revolução de Outubro.

Através das vozes dessas mulheres, escritoras, jornalistas, professoras, poetas, guerreiras e militantes políticas, podemos conhecer a revolução por dentro.  E assim tomar conhecimento de quanto trabalho foi feito por elas para que as mulheres trabalhadoras e camponesas pudessem sair do limitado círculo da vida doméstica, serem incluídas nos debates políticos e  terem suas necessidades pautadas em reuniões organizacionais, conferências, congressos, além de engajá-las defetivamente na luta revolucionária. E obviamente, todo esse processo não se deu do dia para noite. Foram anos de contribuição e muito suor feminino, para que a revolução pudesse realmente ter alguma chance de acontecer. 

Todos os textos são muito ricos em informações e exposição de ideias, e representam muito do pensamento e engajamento das mulheres deste período histórico, não só da Russia mas do mundo. Este precioso material deixa claro as vitórias da revolução no que diz respeito a emancipação feminina atingida durante o período revolucionário. 

Um ponto importante de se observar é que algumas pautas daquele momento, como a luta contra a dupla exploração de sua força de trabalho por conta do trabalho doméstico que recai sobre nós, a proteção plena à maternidade e o direito de ser mãe e trabalhadora ao mesmo tempo sem nenhum prejuízo nem de uma coisa e nem de outra, a efetiva participação das mulheres nos meios de produção, a luta pela redução da jornada de trabalho e salários mais justos, são bandeiras de luta a serem defendidas ainda hoje na sociedade capitalista. 

Diante de tal constatação, é compreensível a importância de resgatarmos o 8 de março como um dia de reverenciar a luta das mulheres. Desde sua origem esta data nunca foi um dia meramente festivo e não poderia ser. Afinal, há muito trabalho ainda a ser feito e muita luta pela frente! E isso faz com que muitas das questões colocadas em alguns dos textos contidos nesse livro sejam, infelizmente, muito latentes. 

Recomendo muito, mais muito mesmo a leitura deste livro para todas as mulheres que se dizem feministas e mais ainda por aquelas que ainda não compreenderam o que é a luta das mulheres e a real necessidade dela. 


SOBRE A ORGANIZADORA:

Graziela Schneider Urso é tradutora, graduada em russo e português, mestre e doutora em literatura e cultura russa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com ênfase em estudos da tradução. Traduziu diversas autoras e autores russos. Trabalhou no Escritório do Fórum Social Europeu, atuando em especial com tradução e coordenação de intérpretes. Colaborou com a Marcha Mundial das Mulheres.


segunda-feira, 30 de março de 2020

O QUE É EMPODERAMENTO - Joice Berth

Este livro faz parte da coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro e publicado pelo Grupo Editorial Letramento, e já começa propondo uma reflexão fundamental sobre empoderamento. Palavra que contém dentro dela a palavra poder, mas de que tipo de poder estamos falando?

Não se trata de dar poder simplesmente e reproduzir a lógica da dominação. Não é o poder de lugar/cargo/função e sim o poder de ser e ter a consciência disso. Empoderar significa também elevar a consciência. Afinal poder sem elevação de consciência, contribui ainda mais para as opressões.  A Teoria do Empoderamento coloca a importância de empoderar as minorias oprimidas, não para agir individualmente, e sim coletivamente no combate às opressões.

Joice Berth apresenta de maneira didática como a Teoria da Conscientização de Paulo Freire inspirou a Teoria do Empoderamento, utilizada pela assistente social e psicóloga Barbara Briant Solomon com as comunidades negras norte-americanas, da década de 1970, em estado de extrema vulnerabilidade social e como essa teoria pode ser muito importante para a construção da subjetividade de grupos minoritários.

Empoderamento não é só uma palavra, é uma teoria que envolve elevação de consciência como um todo e iniciação de processos coletivos de luta. Essa elevação de consciência implica, dentre outras coisas, ter uma visão crítica da realidade sob os aspectos psicológico, político e econômico. Esses aspectos estão intrinsicamente interligados. Trata-se de uma teoria complexa e vai pra além dos discursos rasos das redes sociais. O problema é concreto, portanto, as ações que se dispõem a enfrentá-lo também precisam ser.

A interpretação rasa desta teoria, tão disseminada nas redes sociais, vai dizer que empoderamento feminino é a superação individual de certas opressões, mas sem romper de fato com as estruturas opressoras, como se fosse possível se libertar das opressões sozinho. Enquanto a Teoria do Empoderamento, propõe pensar conjuntos de estratégias necessariamente antirracista, antissexistas e anticapitalistas.

Grupos despolitizados, a mídia burguesa e o mercado, utilizam do termo empoderamento totalmente estereotipado e exteriorizado de sentido mais profundo para estabelecer uma ponte de diálogo com as mulheres que iniciam sua elevação de consciência, para na verdade continuar com práticas de dominação e poder e continuar exercendo controle social.

E este é um bom motivo para ler este livro. Não se deixar enganar pela resposta fácil, superficial e incompleta que se tem colocado para essa questão. O empoderamento é importante para o processo de elevação da consciência das minorias marginalizadas e oprimidas e não pode ser um assunto tratado como de menor importância e muito menos banalizado em redes sociais. 

A maneira como Joice explica toda a necessidade de se empoderar as minorias, é clara e objetiva. Difícil concluir esta leitura com uma compreensão rasa sobre o assunto. Temos aqui uma leitura fluida, mas muito intensa. Fundamentalmente necessária para quem quer de fato se aprofundar no tema e não cair no limbo da interpretação empobrecida de sentido, ou pior, refutar a ideia antes mesmo de conhecê-la devidamente. Convido todos e todas a ler este livro.

OBS: Tem um vídeo ótimo de uma entrevista ótima que a Joice deu para Mariana Xavier em seu canal, confiram. [AQUI]

   
SOBRE A AUTORA:

Joice Berth, arquiteta e urbanista pela Universidade Nove de Julho, especialista em Direito Urbanístico, pesquisa sobre Direito a cidade com recorte de gênero e raça, foi colunista do site Justificando e atualmente escreve para a revista Carta Capital.


Karina Guedes
@okarapoetica

domingo, 29 de março de 2020

AS CIENTISTAS - 50 MULHERES QUE MUDARAM O MUNDO - Rachel Ignotofsky

Na sociedade patriarcal, uma mulher pode ser tudo menos inteligente, autoconfiante e estar disposta a quebrar regras. Não tem coisa que incomode mais o patriarcado do que uma mulher inteligente e segura de si!

Durante muito tempo, cuidar do lar, educar os filhos, servir ao marido eram as únicas ambições permitidas às mulheres. O acesso a educação foi uma das mais importantes conquistas da luta feminista, aprender a ler, a escrever, se matricular numa escola, frequentar uma universidade, é algo muito recente na história das mulheres. E infelizmente, ainda hoje o acesso a essa grande conquista não está ao alcance de todas.

Ainda que muitas mulheres tenham se apropriado deste direito e seguido carreiras de trabalho brilhantes e colecionado produções científicas memoráveis, pouquíssimas delas são lembradas ou até mesmo conhecidas nos dias de hoje.

“Quando pensamos em física, não deveríamos lembrar só de Albert Einstein, mas também de Emmy Noether, uma matemática brilhante para física teórica. Todos deveríamos saber que foi Rosalind Franklin quem descobriu a estrutura de dupla hélice do DNA, não James Watson e Francis Crick. Ao admitirmos os avanços na tecnologia da computação, lembremos não só de Steve Jobs ou Bill Gates, mas também de Grace Hooper, a criadora da programação moderna.” 

É o que nos diz Rachel Ignotofsky que escreveu e ilustrou “As Cientistas – 50 mulheres que mudaram o mundo”, no intuito de dar visibilidade a essas mulheres cientistas pouco conhecidas, ela também espera que esse trabalho possa inspirar garotas e mulheres a seguirem suas paixões e seus sonhos.

Com uma linguagem direta e ilustrações dinâmicas, o livro é um convite a revisarmos nosso conhecimento sobre a história das ciências. Muitos dos avanços que usufruímos hoje, foram conquistados graças aos esforços desses mulheres cientistas, que além de trabalhar muito para desenvolver suas pesquisas, ainda tiveram que enfrentar preconceito, machismo e até mesmo boicotes de seus trabalhos.
   
Além de absolutamente informativo, este livro é uma fofura. Não canso de ler e reler, e a cada releitura compreendo mais o quanto precisamos incentivar os estudos das ciências entre as garotas e mulheres. Temos tanta capacidade quanto os homens para fazer ciência e revolucionar o mundo, não podemos deixar jamais que nos façam pensar o contrário! É uma boa escolha literária para começar a dialogar com meninas sobre, "papeis de mulher". 


SOBRE A AUTORA: 

Rachel Ignotofsky se formou com honras no programa de Design Gráfico da Tyler School of Art em 2011. História e ciência a inspiram e ela acredita que a ilustração é um recurso poderoso para tornar a aprendizagem científica e poder feminino. Para saber ver mais da arte educacional de Rachel e saber mais sobre ela, visite www.rachelignotofsky.com

Karina Guedes
@okarapoetica


HISTÓRIAS DE NINAR PARA GAROTAS REBELDES - Elena Favilli e Francesca Cavallo

Embora a historiografia oficial tenha se esquecido delas, as mulheres nunca estiveram ausentes na história e no processo de desenvolvimento da sociedade. No passado as restrições ao acesso das mulheres à educação não eram incomuns, sendo criadas apenas para serem boas esposas e mães enquanto seus maridos as sustentavam. Muitas delas resistiram e enfrentaram as limitações de seu tempo e se engajaram em grandes projetos de vida.

As breves biografias apresentadas nos livros, “Histórias de Ninar Para Garotas Rebeldes” e “Histórias de Ninar Para Garotas Rebeldes 2”, ambos escritos por Elena Favilli e Francesca Cavalo e publicados com financiamento coletivo, são verdadeiros convites para refletirmos sobre o processo de invisibilização da mulher na historiografia oficial. Cada livro traz as histórias de mulheres de todo o mundo e de todas as épocas, com linguagem acessível e em forma de contos de fadas. Cada narrativa vem acompanhada de uma ilustração belíssima, com elementos que remetem à vida e aos feitos de cada heroína, que nos é apresentada nessas páginas.

“Infelizmente, confiança não é algo que a maioria das mulheres têm a chance de experimentar com frequência. Como poderíamos? A maioria das mulheres extraordinárias retratadas neste livro nunca experenciou esse tipo de convicção. Independente da importância de suas descobertas, da audácia das suas aventuras e da extensão da tal genialidade, elas foram constantemente menosprezadas, esquecidas e, em alguns casos, quase excluídas da história.” (Elena Favilli)

Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes é muito mais que um livro de literatura infantil, é o tipo de leitura capaz inspirar pessoas de todas as idades. Saber que existiram e existem mulheres que venceram as barreiras do preconceito, do machismo e seguiram em frente em seus audaciosos projetos de vida, dialoga diretamente com a nossa autoestima e senso estético. Crescemos admirando os homens e seus feitos, porque eram essas as histórias que chegavam até nós e possivelmente até bem pouco tempo atrás nem imaginávamos que existiram mulheres revolucionárias e que elas estavam apenas escondidas nos empoeirados discursos e contos heroicos do patriarcado.

“É importante que as garotas entendam os osbstáculos que terão que enfrentar, assim como é importante que elas saibam que esses empecilhos não são insuperáveis, e que elas não apenas podem encontrar um jeito de vencê-los como também podem removê-los para aquelas que virão depois.”
(Elena Favilli)

Além de contribuir para o reconhecimento da importância de suas vidas e seus feitos nas mais diversas áreas, como educação, arte, esporte, ciências, política, arquitetura, negócios, navegação etc., mergulhar nestas narrativas pode ser um dos primeiros passos para o chamado empoderamento.

Particularmente, achei a proposta genial. E o mais interessante é que hoje temos muitos trabalhos semelhantes como: Grandes Mulheres que Fizeram História, Kate Pankhurst e Flávia Yacubian , 2019; Extraordinárias: Mulheres que revolucionaram o Brasil, Duda Porto de Souza e Aryane Cararo,2017; As Cientistas: 50 Mulheres que Mudaram o Mundo, Rachel Ignotofsky (resenha deste último Aqui!)

Acredito que uma garota que cresce lendo ou ouvindo essas histórias de mulheres extraordinárias do Brasil e do mundo, pode ter um significativo amadurecimento em sua subjetividade, compreensão de si, de seu papel no mundo e dificilmente se contentará em cumprir um destino imposto. Acho que esse tipo de literatura pode contribuir muito para elaboração de representatividades estéticas importantes no florescer da vontade de emancipação. Isso é só um palpite,rs.


SOBRE AS AUTORAS:

Elena Favilli é empreendedora de mídia e jornalista. Trabalho na revista Colors, na McSweeney´s, na RAI, no II Post e no La Repubblica e gerenciou agências de notícias de ambos os lados do Atlântico. Possui mestrado em semiótica na Universidade de Bolonha(Itália) e estudou jornalismo digital na U.C.Berkeley.

Francesca Cavallo é escritora e diretora de teatro premiada. É mestre em Direção Teatral pela Escola de Artes Dramáticas Paolo Grassi, em Milão (Itália). Fundadora do Sferracavalli, o Festival Internacional de Imaginação Sustentável do sul da Itália.                          

Karina Guedes
@okarapoetica

sábado, 28 de março de 2020

RODÍZIO LITERÁRIO - 2ª Edição.


Queridos aventureiros (as) literários!

Hoje era para ter acontecido o segundo encontro do Rodízio Literário, e como de costume eu postaria aqui um relato de como foi e do que rolou. No entanto, por conta dessa pandemia (Covid-19) que nós estamos enfrentando, o encontro não aconteceu. 

O rodízio terminou, todas leitoras inscritas conseguiram terminar a leitura do livro "tudo Nela Brilha e Queima", da Ryane Leão,  mas infelizmente não podemos nos encontrar e fazer a partilha das impressões da leitura. É uma pena porque está um sábado muito lindo, sol gostoso e uma numa tarde de outono maravilhosa!!!! Então que pena não poder estar juntas celebrando a literatura, a poesia e falando dessa poeta incrível.

Mas para não ficar assim em branco, resolvi montar uma playlist com alguns poemas dela recitados. Além de poemas deste livro que lemos no rodízio, acrescentei alguns do segundo livro que também é massa! Assim já aproveitei para inaugurar nosso perfil no Soundcloud e em breve teremos mais poesias além dessas recitadas lá, ok? 

Como disse na resenha do livro, essa poesia foi inspiradora para mim e me lembrou várias cantoras incríveis, ícones do jazz, soul, pop e rock que usei como fundo musical, meio improvisado, mas dá pra entrar no clima hehehe. Rolou até  Paco de Lucia e Miles Davis lá, mas é porque bateu uma vontade de dançar também.

Confiram a playlist poética, em homenagem a nossa autora da vez! CLIQUE AQUI. 

Para saber mais sobre o que é e como funciona o Rodízio Literário , CLIQUE AQUI. 


Karina Guedes
@okarapoetica


sexta-feira, 27 de março de 2020

TUDO NELA BRILHA E QUEIMA - Ryane Leão


O cotidiano, as ausências que sobram, as presenças que faltam, feridas abertas, cicatrizes que coçam, Ryane Leão fala de amores e dores com a mesma intensidade. 

À medida que ia lendo este livro por vezes me vi há vinte anos atrás, me jogando sozinha no mundo e enfrentando tudo o que viesse pela frente. Para quem decide se libertar dos padrões de comportamento que a sociedade patriarcal impõe, submissão, casamento, maternidade e a velha moral burguesa às avessas, aprender a resistir e a se reconstruir lutando contra tudo isso é um ato de amor e compaixão para consigo mesma.

O título já diz muito sobre Ryane Leão, ela brilha e queima linha por linha. O amor, as alegrias, revoltas e euforias que transbordam dos versos escritos encontram remanso no peito de quem lê. Afinal, além de verso e ritmo, poesia é também encontro.

As vozes de sua poesia transmitem força, doçura e revolta.     Sentimentos comuns às mulheres que se propõem a questionar sua existência e seu lugar no mundo, assim como criar seu próprio mapa e se aventurar em seus próprios caminhos. A luta e a resistência da mulher negra, são os pilares de sua poética, evocada com sabedoria e amor.

Com uma métrica própria e versos intensos, a autora nos convida a dar vida à nossa voz e nossa poética mais íntima. Afinal, sua poesia é como um chamado para a coragem de questionar, protestar e amar. O diferencial de seu estilo não está só na estrutura estética dos versos, mas também nos temas abordados. Amor, reflexões, desilusões, recomeços, racismo, machismo, luta e muita paixão pela palavra são marcas de seu trabalho. Difícil não se entusiasmar com versos tão empoderadores. Questionamentos, vontade de lutar e reivindicar o seu lugar sem medo de se posicionar. Uma voz poética que ecoa e se expande, indo muito além dos cafés elitizados ou manuais literários acadêmicos de outrora. 

 Ícone da literatura brasileira contemporânea, Ryane Leão é a poesia do hoje, do agora, do momento de luta e amor de cada mulher. É atual, sem ser rasa, simples sem ser supérflua e ao mesmo tempo complexa o bastante para nos levar à reflexões sobre nós mesmos, nossas relações e nossa luta diária.
  
Durante a leitura senti uma vontade imensa de ouvir Nina Simone, Aretha Franklin, Gloria Gayor, Beyoncé, mulheres que usaram a arte como instrumento de resistência e luta. E não só ouvir suas canções, mas compreender suas histórias de vida.  É  absolutamente incrível a sede de conhecimento que uma poesia engajada na concretude das relações sociais pode nos provocar.

Talvez a poesia de Ryane Leão seja um convite a olhar para si mesmo, se conhecer e buscar em nossa ancestralidade toda força de resistência necessária para se manter de pé, de cabeça erguida e em luta. Porém sem abrir mão da capacidade e vontade de amar.



+ SOBRE A AUTORA:

Poeta, professora, Ryane Leão começou a  publicação de seus poemas em lambe-lambes e espalhando pela cidade e também no Twitter.  O projeto @ondejazzmeucoracao, tem milhares de seguidores no Instagram e propõe um grito de poesia e de luta.

Em 2016 realizou uma campanha de financiamento coletivo para o lançamento de seu primeiro livro. No ano seguinte publicou “Tudo Nela Brilha e Queima” (Editora Planeta), marcado pelo ativismo em defesa dos direitos das mulheres negras, que em 2018 lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Jabuti de literatura.

Ryane também é fundadora do Odara- English School for Black Girls, escola de inglês para mulheres negras, onde o trabalho é pautado na resistência da arte e da educação.

Empoderamento e ancestralidade dão um tom de luta na cadência de seus versos. Lançou o segundo livro “Jamais peço desculpas por me derramar” (Editora Planeta) em 2019.

É considerada um nos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea.

 

Karina Guedes
@okarapoetica




segunda-feira, 23 de março de 2020

QUARENTENA LITERÁRIA!

Olá queridos companheiros (as) de viagens literárias!

Que momento difícil esse em que nos encontramos.  Eu tinha toda uma programação para o mês de março, com leituras e resenhas de obras de grandes escritoras e teríamos também segundo encontro do nosso Rodízio Literário, onde fizemos a leitura da maravilhosa poesia de Ryane Leão. Mas de repente tudo mudou e infelizmente vamos ter que adiar o encontro e sinceramente eu perdi um pouco do pique do que estava preparando para este mês.

Ocupei boa parte dos meus dias buscando, filtrando e digerindo as informações a respeito do covid-19. As coisas estão acontecendo e mudando de paradigmas muito rapidamente, na mesma velocidade da transmissão do vírus. Então, demorei um pouco para me organizar e pensar no que fazer nessa quarentena, que pelo visto não será só de quarenta dias. Que coisa! Mas vamos tentar ver o lado positivo (se é que podemos chamar assim) de tudo isso?

A orientação máxima para conter essa pandemia é para ficar em casa. Oras, para quem pode fazer isso, essa talvez seja uma oportunidade única de utilizar um pouco desse nosso precioso tempo de vida com nós mesmos. Acredito que vocês devem estar recebendo aí chuvas de indicações de coisas para matar o tempo nesse período. Mas que tal se em vez de matar o tempo, nós pudéssemos viver esse tempo. Sabe, experimentar essa chance de fazer algo significativo, intenso, belo e transformador. Algo que nos faça sentir nossa existência de maneira mais ampliada. Ficar em casa pede recolhimento não só do corpo, mas da mente e espírito. Se resguardar por inteiro e ao mesmo tempo direcionar nosso olhar para o que há de mais profundo em nós.

E sabe o que pode ajudar a chegar nesse elevado nível de consciência? Um livro. Sim, o bom e velho livro! Os filmes, séries, jogos e tals, podem ser interessantes experiências de leitura, reflexão e diversão, mas nenhuma delas se compara ao livro.

Compreendo que ler um livro é uma tarefa árdua para muita gente e de modo geral é um desafio de diferentes níveis para cada um de nós. Pois, trata-se de uma atividade que exige disciplina e até mesmo disposição física para poder mergulhar numa narrativa. Sem contar que o acesso ao livro impresso tem se tornado cada vez mais escasso e agora com bibliotecas fechadas ficará ainda mais difícil. No entanto, mesmo compreendendo que o que vou propor aqui vai na contramão das ansiedades por distrações de fácil acesso, não consigo deixar de recomendar ler livros durante essa quarentena. Pode ser aqueles empoeirados na sua estante ou os que estão disponíveis em plataformas digitais, mas leia um livro.

Ler um livro é uma verdadeira aventura, um exercício de concentração quase meditativo e ao mesmo tempo uma experiência sensorial incrível. Quem tem o privilégio de ter livros impressos por perto, pode vivenciar uma experiencia que considero inigualável: ao tocar  e pegar no livro sentimos o peso e a textura do papel, o cheiro que bate a cada virada de página, as emoções que surgem a cada parágrafo e depois vem a famosa ressaca que bate quando aquela história em que você se envolveu tanto, simplesmente acaba.

Nada contra as plataformas digitais, pelo contrário, acho que elas cumprem o papel da acessibilidade e expandem a aventura literária para lugares onde o livro impresso talvez nunca chegue. Mas particularmente não consigo abrir mão desse contato físico com o livro em papel. Preciso desse cheiro de papel e tinta, isso é totalmente pessoal.

Sempre que indico leitura de livros, ouço o resmungar de gente dizendo que não gosta de ler. Neste caso costumo responder o seguinte: não é que você não gosta de ler, provavelmente você só não descobriu ainda seu gênero ou estilo literário! Ou então você ainda não encontrou sua alma gêmea literária, aquele escritor (a) que com ardilosas palavras te arranca do marasmo da ordinária vida cotidiana. E para isso você precisa ir à luta, percorrer páginas e páginas, procurar até encontrar. E cá entre nós, já adianto uma coisa: a melhor parte dessa jornada não é quando a busca termina, mas sim o próprio caminho.

Não se preocupe se não souber por onde começar a ler, afinal estarei por aqui de quarentena também, compartilhando dicas de leituras e aventuras para que esse tempo difícil em que vivemos, possa ser o menos doloroso possível. E se tem algo que pode nos livrar do tédio e nos guiar nos caminhos que levam às profundidades do nosso ser e à elevação da consciência, o nome disso é Literatura.

Fiquem em casa, se cuidem e aproveitem!

Karina Guedes
@okarapoetica