segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

INTO THE WILD - Jon Krakauer + presentinho no final da resenha.


"dois anos ele caminha pela terra. sem telefone, sem piscina, sem animal de estimação, sem cigarros,. liberdade definitiva. um extremista. um viajante estético cujo lar é A ESTRADA."

(Grafite no Magic Bus, escrito por Chris McCandlles)

Into the Wild ( Na natureza Selvagem), conta a história de Christopher Johnson McCandless, um jovem de uma família abastada da costa leste dos Estados Unidos que foi de carona até o Alasca e adentrou sozinho a região selvagem e desabitada ao norte do monte McKinley. Quatro meses depois, seu corpo decomposto foi encontrado por um grupo de caçadores de alce. No verão de 1990, logo após se formar, com distinção, na Universidade Emory, McCandless sumiu de vista. Mudou de nome, doou os 24 mil dólares que tinha de poupança a uma instituição de caridade, abandonou seu carro e a maioria de seus pertences, queimou todo o dinheiro que tinha na carteira. Inventou então uma vida nova para si, instalando-se na margem maltrapilha de nossa sociedade, perambulando pela América do Norte em busca de experiências cruas, transcendentes. Sua família não tinha ideia de onde estava ou que fim tivera até que seus restos apareceram no Alasca. (nota do autor)

Uma história tocante

Meu primeiro contato com essa história foi através do filme Into the Wild (2007), adaptação dirigida por Sean Penn. Na época fiquei absolutamente cativada pela trajetória de Christopher McCandless e sua aventura. Confesso que a trilha sonora composta por Eddie Vedder contribuiu muito para isso, acho que a profundidade poética das letras dialogam perfeitamente com o espírito da história, somadas ao drama e carisma do personagem principal, nos levam a trilhar com ele e se emocionar com sua fatídica aventura.

No entanto, demorou uns seis anos para que pudesse ler o livro que deu origem ao filme e acho que isso foi bom. Primeiro, porque talvez se eu tivesse lido antes provavelmente não teria me envolvido tanto, pois ainda estava muito influenciada pelas imagens do filme. E segundo, porque as melhores trilhas da minha vida, fiz nesse intervalo de tempo. Portanto, esse distanciamento contribuiu para que eu fosse absolutamente absolvida pela narrativa do livro. E mesmo já conhecendo o desfecho da história, me envolvi e me emocionei página por página, com direito a lágrimas e soluços. Existe algo na história de McCandless que só quem já se aventurou na natureza ou descobriu o prazer de estar sozinho, é capaz de compreender. 

O filme é lindo e comovente, tem uma trilha sonora maravilhosa e tals, mas nos dá uma visão romantizada na história do Chris. Já a narrativa, não menos apaixonada de Jon Krakauer,  nos revela em profundidade o drama da vida do jovem aventureiro. Não se trata aqui da velha questão livro x filme, até porque para mim essa questão nem existe. Cinema e literatura são linguagens diferentes e uma nunca vai ser igual a outra. Jamais vejo uma adaptação literária para o cinema com a intenção de que o filme seja idêntico ao livro. Cada linguagem tem seus recursos próprios para contar uma história. Tendo isso em mente, torna-se inevitável  reconhecer as diferenças entre um e outro e se divertir com isso, pois reconhecer as diferenças construtivas torna a leitura mais completa.

No caso aqui ambos são ótimos, mas o livro obviamente contém mais detalhes e informações que nos levam a compreender a jornada de Chris McCandless com menos julgamento e mais empatia.


Diferenças construtivas 

A primeira coisa que faz diferença no livro é o foco narrativo. A história é contada a partir do relato apaixonado de Jon Krakauer que pesquisou profundamente a história de Chris, fazendo inclusive o mesmo percurso, coletando materiais para compor o livro. A narrativa entrelaça relatos de pessoas que conheceram e conviveram com Chris McCandless durante e até mesmo antes de sua aventura, com as reflexões e observações do autor. 

Ao refazer a trajetória de McCandless, Jon faz um paralelo entre a história dele com sua própria história. O que também é um aventureiro, alpinista, nos conta uma experiência semelhante em muitos aspectos com a que Chris passou, porém com um final mais feliz. Então, essa perspectiva narrativa faz toda a diferença ao acompanharmos a trajetória daquele que viria a se tornar o famoso Alexander Supertramp. 

Outro ponto importante é que os conflitos familiares que culminaram no distanciamento e até mesmo a repulsa de Chris pelos seus pais, são revelados em maiores detalhes. O que nos leva a ter uma compreensão diferente de diversos enigmas de sua trajetória, inclusive do final dela. 

O filme termina com o que seria a grande epifania de Chris, “a felicidade só existe quando compartilhada”, em meio a imagens de supostas lembranças de sua família.

Mas no livro, que poderíamos até chamar de documental devido a riqueza de material apurado, nada nos leva a compreender que Chris teria ao final da vida, perdoado seus pais. O que podemos compreender a partir dos registros de seu diários e relatos das últimas pessoas que estiveram com ele, é que ele cumpriu seu propósito e se sentiu pronto para voltar. Porém, nada entre esses registros nos leva a pensar que esse voltar seria para a casa de seus pais, para o seio familiar, como sugere o filme. Acho que esse é um ponto muito interessante da história e que obviamente carece de mais investigação da minha parte, mas, por hora é como interpreto a questão. 

Uma pista para melhor interpretar essa questão seria ler o livro Dr. Jivago, que foi o livro que ele leu por último e ao que tudo indica o influenciou nesta epifania. Trata-se um livro bem controverso e polêmico acerca dos desdobramentos da Revolução Russa. Alguns o consideram uma crítica ao comunismo, enquanto outros dizem que se trata de uma apologia ao comunismo. Apesar de ficar claro durante a narrativa que Chris era avesso a “lados políticos definidos”, chegando a ser até controverso em suas posições, parecendo muitas vezes um anarquista nato, outras vezes nem tanto, algo me diz que a compreensão mais profunda de Dr. Jivago pode nos dar boas pistas dessa questão enigmática de sua jornada. 

O terceiro ponto interessante na narrativa de  Jon Krakauer é a descrição da paisagem. Dá vontade de entrar no livro e fazer parte da história. A maneira como ele retrata as paisagens de toda a trajetória de Chris, principalmente da Stempede Trail e do Monte McKinley, é emocionante e envolvente com um tom de paixão intenso. Afinal, quem narra é também um aventureiro de alma selvagem e tem sua vida completamente envolvida com a natureza. Assim, as paisagens descritas dos lugares visitados por Chris se entrelaçam com as paisagens dos lugares visitados por Jon, dando certa intensidade ao mergulho na natureza selvagem e alimentando ainda mais nosso desejo de aventura. Quando digo nosso, refiro-me aos amantes do contato com a natureza e com essa prática tão ancestral e perturbadora que é seguir em trilhas por caminhos desconhecidos e atraentes do mundo natural. Tem gente que simplesmente precisa ir, e vai... 

E porque essa história é tão fascinante e tem movido pessoas em torno dela há mais de 30 anos?

Diversos motivos nos causam empatia pela trajetória de Chris McCandless, seja pela paixão por esportes radicais, por trilhas, aventuras e desafios de todos os tipos. A natureza desconhecida é sem dúvida um tema muito atraente para muitas pessoas. A possibilidade de testar nossos limites físicos e emocionais, o desafio da superação e da resistência, fazem parte da trajetória narrada nesse livro e isso se conecta com nossos instintos mais primitivos e ocultos dentro de nós. A (des) conexão ser humano-natureza, nos provoca reflexões e emerge conflitos sobre nosso papel e propósito no mundo. E talvez o fato de que assim como Chris, também sentimos repulsa à hipocrisia da sociedade e da escravidão institucionalizada pelo sistema capitalista em que estamos submetidos. 

O tema do desapego é também central nessa história, ele parte rumo ao desafio de desapegar de um mundo pré-fabricado, com regras pré-estabelecidas e valores pré-definidos e sai em busca de algo, que nem ele mesmo sabe exatamente bem o que é, ele simplesmente vai de encontro ao mundo selvagem onde acredita, a princípio, ser o oposto a tudo isso que conhece.  Esse chamado à rebeldia, de renegar um mundo que não fora construído por nós mesmos é sem dúvida muito atraente, sobretudo aos espíritos mais livres. 

De todos os motivos que me fascinam nessa história, o que mais me toca é o sentimento de solitude.  E a solitude não é a mesma coisa que a solidão. 

Solidão está geralmente associada a dor de estar só, sendo algo negativo, pois quem tem esse sentimento dentro do peito, deseja estar na companhia de alguém. 

Solitude está associado a glória de estar sozinho, pois revela-se uma satisfação imensa em não precisar da companhia de outra pessoa para sentir-se bem, sentir-se pleno.

Tem um texto muito bom sobre essa diferença no site Fãs da psicanálise, onde o autor Felipe de Souza escreve o seguinte: 

“De acordo com o dicionário Michaelis, a palavra solitude é um palavra de uso poético. A poética, por sua vez, remete tanto à produção de algo novo como à apreciação e criação da beleza. Ou seja, a solitude permite o tempo e o espaço e o silêncio para fazer o útil ou o belo. Também permite não fazer nada. Também permite desenvolver a espiritualidade, encontrar-se enquanto uma pessoa diferente dos demais e se aceitar como se é – independentemente da aprovação do outro...”

E essa ideia é totalmente refletida na trajetória de Chris, principalmente quando ele adentra ao Parque Nacional Denali rumo a sua caminhada transcendental. Através das anotações de seu diário e principalmente das fotos que ele fez durante esse período, é possível ver esse sentimento em seu semblante. Talvez não possamos dizer que a solitude esteve em seu espírito cem por cento do tempo, mas os registros sugerem que pelo menos uma boa parte sim.   

Na última foto, em que segura um bilhete de despedida, pois já sabia que a morte estava a sua espera, é possível ver em seus olhos, a serenidade de quem percorre um longo percurso para dentro de si mesmo, se encontrou e se realizou. 

Quem passa pela experiência de ficar sozinho em algum momento da vida e se permite experimentar a solitude, aprende algo de extremo valor para a sobrevivência humana: não ser emocionalmente dependente de ninguém. Aliás, nenhum tipo de dependência é interessante para o desenvolvimento de uma vida saudável, plena e liberta. Mas acho que a dependência emocional pode ser das piores amarras que alguém possa ter na vida. Pois, ela nos leva ao aprisionamento do que há de mais íntimo em nosso ser: o desenvolvimento da capacidade de bastar-se e ser completo em si mesmo. 

E porque isso é importante? 

Porque uma pessoa que se sente completa por si só, jamais vai aprisionar alguém para suprir suas carências afetivas, uma vez que não as tem. E tampouco vai se deixar ser aprisionado. Não consigo ver mais representação do sentimento de libertação do que esse, a não necessidade emocional do outro.

Isso não significa que não precisamos dos outros ou da vida em sociedade. Viver em conjunto é produtivo e é natural estabelecermos vínculos e parcerias ao longo da vida. Ajudar e ser ajudado, apoiar e ser apoiado, assim como realizar trocas honestas e equilibradas de afetividade. Porém, essas relações que estabelecemos com o mundo e pessoas à nossa volta, não podem custar o aprisionamento da nossa alma. Acredito que é isso que a solitude pode nos trazer, além de estado de satisfação plena consigo mesmo, um estado de independência emocional do outro, o que nos torna pessoas mais libertas e mais completas.

 O que penso da história de Alex Supertramp? 

Bem, a intensidade da narrativa do livro me fez chegar a seguinte conclusão: não se trata só da história de um aventureiro. Trata-se de uma trajetória autêntica de busca de autoconhecimento, de coragem para viver de acordo com seus próprios princípios. Um belo exemplo de autenticidade: pensar, desejar, estabelecer uma meta e buscá-la. Manter o foco e não desistir jamais. Mesmo quando tudo à sua volta lhe disser não. Lutar pelo sim até o final. 

Chris McCandless conquistou seu objetivo, chegou ao Alasca, viveu da natureza, transcendeu à vida selvagem. Encontrou respostas e decidiu voltar. Porém, o acaso do destino lhe trouxe uma surpresa, essa talvez tenha sido a única derrota de Chris, a sorte que lhe faltou num momento crucial.

Alguns vão questionar, porque ele não se preparou mais ou não estudou melhor a região antes de se aventurar por terras desconhecidas. Bem, talvez porque não era esse o propósito. Ele não estava fazendo uma expedição de reconhecimento de área, ele estava vivendo sua grande aventura de vida. Ele não queria dominar a natureza e sim vivê-la. Integra-se a ela através de uma relação ser-humano-natureza mais primitiva possível. Esse era seu propósito e não bater recordes esportivos ou fazer turismo. Ao compreender isso, parei de julgá-lo. 

E de repente a história fez muito sentido. Ele viveu o que se propôs a viver, de forma liberta e de acordo com seus próprios ideais.

A narrativa apaixonada do autor também contribui para que possamos seguir Chris em sua jornada sem julgá-lo. Acho que essa é uma rota interessante de seguir para leitura do livro. Tentando se colocar no lugar daquele jovem tão obstinado, corajoso e convicto de suas ideias.  Isso não é romantizar a trajetória, e sim vivê-la junto com ele. Acredito que essa rota pode nos levar a uma leitura mais profunda e muito mais emocionante. E compreender que a grande aventura de Chris é também uma tragédia com a qual podemos aprender muito e  chegarmos ao final da última página diferentes de quando iniciamos a primeira. Tal como acontece quando colocamos os pés numa trilha, mergulhamos profundamente em sintonia com o caminho, superando obstáculos, compreendendo cada vez mais o trajeto e se maravilhando com a beleza do percurso. Ao final da trilha, não somos mais os mesmos e isso é libertador. 


SOBRE O AUTOR: 

Jon Krakauer (nascido em 12 de abril de 1954) é um escritor e montanhista americano. Ele é o autor de best-sellers de livros de não ficção - Into the Wild; Into Thin Air; Sob a Bandeira do Céu; e Where Men Win Glory: The Odyssey of Pat Tillman - bem como vários artigos de revistas. Recebeu um Oscar de Literatura da Academia Americana de Artes e Letras. De acordo com a citação do prêmio, “Krakauer combina a tenacidade e a coragem da melhor tradição do jornalismo investigativo com a sutileza estilosa e a visão profunda do escritor nato”.


SOBRE CHRIS McCLANDLESS:

Neste site mantido pela família de Crhis, é possível encontrar muitas informações sobre sua biografia, assim como livros e vídeos a respeito de sua trajetória. 

http://www.christophermccandless.info


MINHA DICA PARA UMA LEITURA MAIS PROFUNDA LEITURA DESTE LIVRO:

Se você nunca fez um trilha antes, experimente. Se você pretende ler esse livro e nunca fez uma trilha, faça uma primeiro. Se você nunca ficou sozinho, desconectado do mundo por pelo menos um final de semana, experimente isso antes de ler esse livro. Acredite, tais experiências farão sua leitura ser muito mais intensa e emocionante. 

💟Deixei por aqui um presente pra você: baixe o e-book com algumas imagens da Stampede Trail, para mergulhar na paisagem enquanto lê o livro. Clique aqui. Se não conseguir abrir deixe seu e-mail nos comentários, que envio pra você.😉😊


Karina Guedes

@okarapoetica


sexta-feira, 1 de maio de 2020

METADE CARA, METADE MÁSCARA - Eliane Potiguara

Metade Cara, Metade Máscara é um livro muito interessante escrito por Eliane Potiguara, escritora, poeta, ativista, professora, empreendedora social de origem étnica potiguara de seus avós.  Neste livro revela-se uma escrita literária que mescla diferentes gêneros textuais. 

No início são apresentadas informações e reflexões sobre identidade, invasão das terras indígenas e migração. Acontecimentos que vão colocar os povos indígenas em marcha e em luta pela sobrevivência.

Ao relatar de forma brilhante a diáspora indígena, a autora denuncia verdades sobre o doloroso processo de colonização, chamando atenção para as questões que tangem especialmente a mulher indígena.  O olhar feminino está presente em toda obra, colocando em evidência o universo feminino com textos que abordam: amor, família, pertencimento, violência, identidade e direitos humanos, entre outros temas. E essa temática se concretiza em torno das histórias das mulheres, ou seja, aquelas que não foram contadas.

Ancestralidade, espiritualidade, culto a terra e a busca pela preservação da identidade são assuntos abordados e colocados em questão pela autora. A narrativa se encerra tecendo uma verdadeira evocação de luta e resistência. Toda essa presença indígena traduzida numa composição lírica inclassificável, se desenvolve numa trama minuciosamente construída entre a prosa e a poesia.

A tessitura da composição estética traz sons, cores e vozes de povos que contam sua própria história, fazendo-se sujeito e personagem ao mesmo tempo. Eliane Potiguara cria um caminho didático ao apresentar textos de gêneros diversos, de modo que fica colocado para ao leitor as diferentes portas abertas que ele poderá adentrar para compreender as questões sociais colocadas e posições políticas defendidas. É como se ela usasse diferentes códigos para transmitir a mesma mensagem. 

Ao contar a história e movimentos de Jurupiranga e Cunhataí, a autora vai usar  poesia e prosa poética como forma de transmitir a imagem, presença e trajetória da família indígena simbolicamente representada por esses personagens. A linguagem do livro se dá numa mistura textual, tão bem elaborada que nos envolve, nos intriga e nos comove do começo ao fim. 

Há muito tempo que eu queria ler esse livro e quando finalmente consegui foi um baque forte, porque Eliane tem um jeito muito próprio de narrar, relatar, contar. Os caminhos que ela escolhe para trazer seu pensar são sempre um convite a uma experiência desafiadora de leitura. Tanto do ponto de vista da fruição literária, quanto do ponto de vista da reflexão política. Ela nos envolve, nos faz pensar e ver tudo com outro olhar. O olhar de quem durante todo esse tempo, esteve do outro lado, o lado dos oprimidos e silenciados. E isso mexe com a gente, nos transforma. 

Ao final da leitura a sensação foi como se aqueles personagens indígenas de que tanto ouvimos falar nas aulas de história, de repente saíssem do livro e dissessem: Agora sou eu que vou falar. Ouça. E você se vê, não diante de uma nova versão da história, mas sim de outra história. Aquela não contada, escondida embaixo do tapete, ou até mesmo apagada da chamada historiografia oficial. 

Ler Eliane Potiguara é como receber um orelhão na cabeça, porque não é só uma ficha que cai, são várias. Ela tem um jeito didático/poético/único de contar verdades e nos ensinar a reconhecer mentiras. Aliás, essa foi uma impressão que ficou muito forte para mim, quanta mentira nos contam sobre os indígenas e nós na inocência ou na preguiça, simplesmente acreditamos.

Tenho dedicado um tempo da minha vida e do meu coração, para entender os movimentos indígenas. E  ler a literatura que se escreve a partir daí, para mim é sempre a melhor e mais deliciosa trilha. Adoro ler livros, artigos, músicas, textos de todos os tipos escritos por indígenas, porque é como se eu adentrasse nas aldeias, das florestas ou cidades, como convidada e não como intrusa. E eu adoro ser convidada a conhecer o outro a partir de sua própria perspectiva. Para mim é uma honra.


SOBRE O AUTORA:  

Profª Eliane Potiguara é escritora, poeta, ativista, empreendedora social de origem étnica potiguara de seus avós, migrantes nordestinos. É formada em Letras e Educação pela UFRJ e extensão em Educação e Meio ambiente pela UFOP. É contadora de histórias. Nasceu em 29/09/1950 na cidade do Rio de Janeiro. Recebeu o título de Cavaleiro da Ordem do Mérito Cultural do Brasil pelo Ministério da Cultura entregue em mãos pela Presidência da República. Fellow da organização internacional Ashoka (empreendedores sociais), fundadora do GRUMIN (Grupo Mulher - Educação Indígena) e Enlace Continental de Mujeres indígenas e Embaixadora da Paz pelo Círculo de Escritores da França. Participou da elaboração da Declaração Universal dos Povos Indígenas/ONU por 6 anos nas sessões em Genebra. Possui 7 livros publicados. Teve seus textos publicados em diversos sites, antologias e e-books nacional e internacional. Premiada pelo Pen Club da Inglaterra e Fundo Livre de Expressão (USA). 

EMBAIXADORA UNIVERSAL DA PAZ: Eliane Potiguara foi nomeada Embaixadora Universal da Paz em Genebra (Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix – Genebra – Suíça). 

Além de tudo isso que está na biografia oficial em seu site, ela é também uma pessoa muito, mas muito gentil, maravilhosa e inspiradora que eu tive a honra de conhecer pessoalmente numa festa literária. 💗Site: http://www.elianepotiguara.org.br


Karina Guedes

@okarapóetica


domingo, 5 de abril de 2020

VEM GOSTAR DE LER!

Algumas pessoas chegam até mim com a seguinte questão, 'eu queria ler mas não consigo ler um livro inteiro', outras dizem "ler me dá sono", ou "tenho preguiça" ou então "parei de ler porque nunca encontrei nada que me interessasse".  

Eh, são diversos motivos que afastam uma pessoa do hábito de ler.  Além da falta de disposição física e traumas literários da época de escola, acredito que muitas delas não conseguem manter o hábito de ler primeiramente por ter um conceito equivocado do que é leitura, depois pela dificuldade de acesso ao livro e por último por não saberem nem por onde começar a desenvolver esse hábito.

Sobre o conceito de leitura, é importante lembrar que o livro não é a única coisa pra ler que existe no mundo. Como amante desse tipo de leitura, estou sempre indicando livros e compartilhando resenhas, mas defendo que todos os outros objetos de leitura são importantes e válidos. Seja uma HQ, um jornal, uma revista e etc. Acho que deixei bem claro o que considero leitura no texto anterior, caso não tenha lido, clique aqui.

Outro ponto importante a ressaltar é que para muitas pessoas o acesso à bons títulos ainda é bem precário ou inexistente. Infelizmente livro ainda é uma coisa cara no Brasil e nem todas as cidades contam com bibliotecas públicas, sebos ou até mesmo livrarias. Comprar livros pela internet em sites como Estante Virtual, onde você encontra diversos sebos do Brasil, seria uma alternativa mas hoje em dia está ficando complicado também devido à elevada taxa do frete, dependendo da região. Já cheguei a encontrar livro por R$3,00 mas o frete era R$12,00. Acredito que esta dificuldade de acessar bons livros, também desestimula a ler.

Além dessa dificuldade de acesso, tem a questão da prática. Nós só aprendemos a ler lendo e a escrever escrevendo e por aí vai... Se a vontade é de ler mais, de ler livros, e desfrutar das deliciosas narrativas que existem nesse mundo, o jeito é treinar. Pensando nisso, selecionei aqui algumas dicas que costumam funcionar bem quando a pessoa tem vontade de ler, mas não sabe por onde começar, ou pior, não se sente capaz de compreender um texto literário.

Gente, ler não tem a ver só com capacidade, mas também com vontade! Porque capacidade para leitura todos nós temos, mas no geral precisamos de algo que nos desperte vontade de ler e de estabelecer um diálogo com determinada obra. O despertar dessa vontade está ligado a questões muito pessoais e só tem um jeito de descobrir o que funciona ou não funciona pra você: experimentando diversos gêneros literários diferentes.

Selecionei aqui três gêneros diferentes que considero iniciais para começar a ter gosto pela leitura, mas saibam que existem outros . Espero que as sugestões colocadas aqui contribuam de alguma forma na sua caminhada inicial rumo ao delicioso universo literário.  Praticamente todos os textos indicados você consegue encontrar facilmente na internet, caso não encontre, deixe seu e-mail nos comentários que posso disponibilizar o material que tenho. ;-)

Dicas e sugestões de leituras

1) Canções narrativas - Se você ainda não tem o hábito de ler, mas sente vontade de ser um leitor voraz, que tal começar pela música? Sim, música serve pra ler.  Muitas canções são verdadeiras narrativas, contam histórias e dilemas de diversos tipos de personagens incríveis. Sugiro que depois de ouvir a música, leia a letra em voz alta. Quanto mais épica a letra, melhor será o fruir literário.

Sugestões de canções narrativas
  • Faroeste Caboclo – Legião Urbana
  • Construção – Chico Buarque
  • A Novidade – Gilberto Gil
  • Marvin - Titãs
  • Camila Camila- Nenhum de Nós
  • Geni e o Zepelim – Chico Buarque
  • Samba do Arnesto – Adoniram Barbosa
  • O Malandro – Chico Buarque
  • A Volta do Malandro – Chico Buarque
  • O Meu Guri - Chico Buarque
  • Metrô Linha 743 – Raul Seixas
  • Ovelha Negra - Rita Lee
  • Fera Ferida – Roberto Carlos e Erasmo Carlos, eternizada na voz de Maria Bethânia.
  • O Mundo Anda Tão Complicado - Legião Urbana
  • Dezesseis - Legião Urbana
  • Negro Drama - Racionais Mc´s
  • Brasil com P - GOG
  • Sobre as Folhas (ou o Barão nas árvores) - Cordel do Fogo Encantado
  • Morte e Vida Stanley - Cordel do Fogo Encantado
  • O Dia Em Que a Terra Parou - Raul Seixas
Eu poderia citar centenas de canções desse tipo, mas paro por aqui. Percebam que fiquei entre a MPB, o rock nacional e o RAP, mas esse tipo de canção existe em praticamente quase todos os gêneros musicais, basta pesquisa dentro do seu gênero musical favorito.

2) O Conto, é outro gênero literário bem interessante para quem está aprendendo a gostar de ler. Pois, os contos são verdadeiros aperitivos do delicioso banquete literário que está reservado para nós. Além de se tratar de um gênero bem gostoso de ler, os contos costumam apresentar narrativas mais concisas em torno de um só núcleo. Considero o conto um jeito bem interessante de experimentar os cânones literários e ver qual deles é mais  a sua praia. 

Sugestões:
  • O Espírito – Artur Azevedo
  • A Cartomante – Machado de Assis
  • A Carteira – Machado de Assis
  • Antes do Baile Verde – Lygia Fagundes Teles
  • Venha Ver o Pôr do Sol – Lygia Fagundes Teles
  • A Terceira Margem do Rio - João Guimarães Rosa
  • História Interrompida – Clarice Lispector
  • A Bela e a Fera ou A Ferida Grande Demais – Clarice Lispector
  • De quanta terra precisa um homem - Liev Tolstói

3) Crônicas - Pequenas histórias que nos convidam a ver o cotidiano com uma lupa para subjetividade.  Uma dica aqui é se atentar a época em que o texto foi escrito, apesar de que uma boa crônica acaba sendo atemporal, mas situar o momento em que a obra foi produzida às vezes ajuda na compreensão.

Sugestões:
  • O Coco de Duda – Elika Takimoto
  • História Estranha – Luís Fernando Veríssimo
  • Sorrindo Pelas Costas – Eliane Brum
  • Analfabetismo – Machado de Assis
  • O Analista de Bagé – Luís Fernando Veríssimo
  • O Melhor Amigo – Fernando Sabino
  • Condôminos – Fernando Sabino
  • Não fale com plantas! (Ela Gostaria de ter escrito, em sua lápide) – Eliane Brum
  • Borboleta Amarela – Rubem Braga

Bem, essas são apenas algumas sugestões de textos de alto teor lírico que podem contribuir para o despertar do seu gosto pela leitura. Outra dica é ler mais de uma vez cada texto. A releitura é um exercício que além de nos ajudar a compreender melhor a história (pois a cada leitura você pode perceber algo que não havia percebido antes),  contribui para que aos poucos você vá descobrindo as camadas mais profundas do texto, o que está nas entrelinhas e não foi explicitamente dito pelo autor, mas apenas sugerido. Sinceramente pra mim essa é a melhor parte da leitura!

E para concluir, leia de tudo um pouco sem preguiça, conforme você for experimentando, vai descobrindo que tipo de texto te agrada mais e assim começa a elaborar o seu próprio repertório.
 
Só de se permitir conhecer alguns desses textos você já estará dando um grande passo para a aquisição do hábito da leitura. Saiba que tem muito mais de onde vieram estes e que todos eles estão lá aguardando por você para uma grande festa das palavras!

Caso tenham outras sugestões, serão muito bem vindas. Deixem nos comentários.

OBS: Texto escrito especialmente para meus sobrinhos Antônio Paulo, Carlos Henrique, Bruno César. e Heitor. Com muito amor! Tia Ka!

Karina Guedes
@okarapoetica

sábado, 4 de abril de 2020

LER É SER!


Ler é um exercício que nos tira do lugar comum! E para compreender essa afirmação, preciso lembrar que estou considerando aqui a leitura como um gesto mais abrangente, pra além do texto escrito. Ler é estar diante de um objeto ou situação e se permitir buscar diálogos e caminhos de compreensão para o que se revela diante de nós.

Como assim?

Tem uma personagem que adoro e que exemplifica bem o conceito de leitura que estou tentando colocar aqui. O detetive Sherlock Holmes - criado pelo escritor Arthur Conan Doyle - personifica o que chamo de poder de leitura. Através do tato, olfato, visão, audição, até do paladar, além de uma brilhante capacidade de dedução, ele consegue não só de desvendar os mais misteriosos crimes, mas também de reconstruir narrativas inteiras e interpretá-las de forma brilhante. Ou seja, ele simplesmente faz leituras o tempo todo em suas empolgantes aventuras.

Isso acontece conosco também, pois nós não lemos somente com nossos olhos, mas sim com o corpo e toda nossa cultura. Leitura não é só decodificar de letras e palavras elencadas e sim uma prática  de interação constante que envolve texto, autor, leitor, contexto e emoções. Ou seja, uma mistura de vários elementos que podem promover em nós uma forte mudança de estado de espírito. E dependendo do objetivo da leitura e da maneira como for conduzida, pode nos levar a outros estágios de percepção e compreensão da vida, do mundo e de nós mesmos.

Leitura não se resume a livros.

Existem diferentes objetos de leitura, livros, pinturas, músicas, poesia, danças, teatro, diferentes  tipos de narrativas. Você pode fazer uma leitura apenas com o intuito de obter informação objetiva e ler um jornal, uma revista cientifica ou bula de medicamento; pode fazer uma leitura para mero entretenimento ou até mesmo se permitir experimentar estéticas literárias mais elaboradas para  o simples fruir do devir. 

A literatura, a arte, assim como as diferentes linguagens artísticas, de modo geral nos oferecem interessantes exemplos de “coisas pra ler” e experimentar o fruir da palavra. Acredito que cada uma delas com suas próprias particularidades, nos permitem trilhar um caminho incrível de mudança de estado de espírito e elevação de consciência, pois não atuam somente no campo da emoção, mas também no campo da razão.

Sou amante da arte literária e realmente acredito na literatura como terapia, como caminho de transcendência e elevação.  Além de ferramenta de formação, entretenimento e outras funções que se queira atribuir, a literatura tem o poder de estabelecer diálogos com aspectos mais íntimos de nossa mente.

Uso o termo literatura como a representação de um conjunto bem amplo de produções artísticas, que se organizam esteticamente em torno da palavra (não me refiro somente aos cânones literários). Ou seja, os causos, histórias, poemas, canções, cordel, teatro e tudo o que puder estabelecer essa ponte de diálogo entre nossa poética e o mundo.

E por que precisamos da literatura?

Porque ela nos humaniza. Os objetos literários, estruturados e de relevância estética, dialogam com nosso caos interior e promovem perturbação e ordem ao mesmo tempo, fazendo vir à tona o que há de mais profundo em nós, pois opera alternadamente entre nosso estado consciente e inconsciente. E ao trazer todo nosso estado de espírito mais íntimo à flor da pele, somos levados a lidar com ele. Com nossos pensamentos, sentimentos e inquietações mais íntimos.

Talvez isso explique um pouco, porque determinadas leituras são perturbadoras, porque gostamos mais de um tipo de história do que de outro, ou porque nos apegamos ou odiamos determinado personagem. Estamos o tempo todo dialogando, consciente ou inconscientemente com o objeto literário que nos dispomos a conhecer. Nós nos envolvemos com a palavra e isso é fenomenal.

A capacidade de fabular, de se perder num devaneio, de se emocionar com uma história, de criar e fruir a ficção, proporciona à nossa jornada um sentido mais amplo e mais interessante do que o simples nascer, crescer, se reproduzir e morrer. Portanto, ler e se envolver com a fruição literária, significa não se limitar ao destino biológico e buscar fazer da existência algo mais significativo e menos sofrível possível.

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Vem gostar de ler!

Ler é sair da mediocridade do cotidiano, gostar de ler é um gesto de rebeldia contra as limitações impostas pelas circunstâncias da vida. Ler é se aventurar num caminho sem volta para o desenvolvimento pleno do ser. Experimentem! 

Se por acaso você ainda não sabe por onde começar, deixei aqui algumas dicas pra quem quer se iniciar nessa jornada de pleno desenvolvimento do ser e se aventurar nos caminhos da leitura.
[CLIQUE AQUI]

Boas leituras e boas aventuras literárias!

Karina Guedes
@okarapoetica


terça-feira, 31 de março de 2020

A REVOLUÇÃO DAS MULHERES - Graziela Schneider (org.)

Muito mais que um livro sobre escritoras pouco conhecidas, A Revolução das Mulheres é um verdadeiro dossiê sobre a emancipação feminina na Rússia socialista e também uma excelente introdução para a compreensão de todo o processo, que com a efetiva participação das mulheres, consolidou as bases para as Revoluções 1917.

Neste livro organizado por Graziela Schneider, encontramos artigos, atas, panfletos, ensaios escritos por importantes mulheres antes e depois da revolução. Traduzidos diretamente do Russo para o português, e isso faz toda a diferença, pois podemos acessar com mais acertividade (e pouca chances de má interpretações) as genuínas ideias defendidas por grandes nomes da revolução como Alexandra Kollontai, Nadejda Krupskaia, entre outras.
Cada texto nos revela aos poucos a dimensão da siginifcativa e fundamental presença das mulheres em todo o processo que levou a Rússia à Revolução de Outubro.

Através das vozes dessas mulheres, escritoras, jornalistas, professoras, poetas, guerreiras e militantes políticas, podemos conhecer a revolução por dentro.  E assim tomar conhecimento de quanto trabalho foi feito por elas para que as mulheres trabalhadoras e camponesas pudessem sair do limitado círculo da vida doméstica, serem incluídas nos debates políticos e  terem suas necessidades pautadas em reuniões organizacionais, conferências, congressos, além de engajá-las defetivamente na luta revolucionária. E obviamente, todo esse processo não se deu do dia para noite. Foram anos de contribuição e muito suor feminino, para que a revolução pudesse realmente ter alguma chance de acontecer. 

Todos os textos são muito ricos em informações e exposição de ideias, e representam muito do pensamento e engajamento das mulheres deste período histórico, não só da Russia mas do mundo. Este precioso material deixa claro as vitórias da revolução no que diz respeito a emancipação feminina atingida durante o período revolucionário. 

Um ponto importante de se observar é que algumas pautas daquele momento, como a luta contra a dupla exploração de sua força de trabalho por conta do trabalho doméstico que recai sobre nós, a proteção plena à maternidade e o direito de ser mãe e trabalhadora ao mesmo tempo sem nenhum prejuízo nem de uma coisa e nem de outra, a efetiva participação das mulheres nos meios de produção, a luta pela redução da jornada de trabalho e salários mais justos, são bandeiras de luta a serem defendidas ainda hoje na sociedade capitalista. 

Diante de tal constatação, é compreensível a importância de resgatarmos o 8 de março como um dia de reverenciar a luta das mulheres. Desde sua origem esta data nunca foi um dia meramente festivo e não poderia ser. Afinal, há muito trabalho ainda a ser feito e muita luta pela frente! E isso faz com que muitas das questões colocadas em alguns dos textos contidos nesse livro sejam, infelizmente, muito latentes. 

Recomendo muito, mais muito mesmo a leitura deste livro para todas as mulheres que se dizem feministas e mais ainda por aquelas que ainda não compreenderam o que é a luta das mulheres e a real necessidade dela. 


SOBRE A ORGANIZADORA:

Graziela Schneider Urso é tradutora, graduada em russo e português, mestre e doutora em literatura e cultura russa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com ênfase em estudos da tradução. Traduziu diversas autoras e autores russos. Trabalhou no Escritório do Fórum Social Europeu, atuando em especial com tradução e coordenação de intérpretes. Colaborou com a Marcha Mundial das Mulheres.


segunda-feira, 30 de março de 2020

O QUE É EMPODERAMENTO - Joice Berth

Este livro faz parte da coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro e publicado pelo Grupo Editorial Letramento, e já começa propondo uma reflexão fundamental sobre empoderamento. Palavra que contém dentro dela a palavra poder, mas de que tipo de poder estamos falando?

Não se trata de dar poder simplesmente e reproduzir a lógica da dominação. Não é o poder de lugar/cargo/função e sim o poder de ser e ter a consciência disso. Empoderar significa também elevar a consciência. Afinal poder sem elevação de consciência, contribui ainda mais para as opressões.  A Teoria do Empoderamento coloca a importância de empoderar as minorias oprimidas, não para agir individualmente, e sim coletivamente no combate às opressões.

Joice Berth apresenta de maneira didática como a Teoria da Conscientização de Paulo Freire inspirou a Teoria do Empoderamento, utilizada pela assistente social e psicóloga Barbara Briant Solomon com as comunidades negras norte-americanas, da década de 1970, em estado de extrema vulnerabilidade social e como essa teoria pode ser muito importante para a construção da subjetividade de grupos minoritários.

Empoderamento não é só uma palavra, é uma teoria que envolve elevação de consciência como um todo e iniciação de processos coletivos de luta. Essa elevação de consciência implica, dentre outras coisas, ter uma visão crítica da realidade sob os aspectos psicológico, político e econômico. Esses aspectos estão intrinsicamente interligados. Trata-se de uma teoria complexa e vai pra além dos discursos rasos das redes sociais. O problema é concreto, portanto, as ações que se dispõem a enfrentá-lo também precisam ser.

A interpretação rasa desta teoria, tão disseminada nas redes sociais, vai dizer que empoderamento feminino é a superação individual de certas opressões, mas sem romper de fato com as estruturas opressoras, como se fosse possível se libertar das opressões sozinho. Enquanto a Teoria do Empoderamento, propõe pensar conjuntos de estratégias necessariamente antirracista, antissexistas e anticapitalistas.

Grupos despolitizados, a mídia burguesa e o mercado, utilizam do termo empoderamento totalmente estereotipado e exteriorizado de sentido mais profundo para estabelecer uma ponte de diálogo com as mulheres que iniciam sua elevação de consciência, para na verdade continuar com práticas de dominação e poder e continuar exercendo controle social.

E este é um bom motivo para ler este livro. Não se deixar enganar pela resposta fácil, superficial e incompleta que se tem colocado para essa questão. O empoderamento é importante para o processo de elevação da consciência das minorias marginalizadas e oprimidas e não pode ser um assunto tratado como de menor importância e muito menos banalizado em redes sociais. 

A maneira como Joice explica toda a necessidade de se empoderar as minorias, é clara e objetiva. Difícil concluir esta leitura com uma compreensão rasa sobre o assunto. Temos aqui uma leitura fluida, mas muito intensa. Fundamentalmente necessária para quem quer de fato se aprofundar no tema e não cair no limbo da interpretação empobrecida de sentido, ou pior, refutar a ideia antes mesmo de conhecê-la devidamente. Convido todos e todas a ler este livro.

OBS: Tem um vídeo ótimo de uma entrevista ótima que a Joice deu para Mariana Xavier em seu canal, confiram. [AQUI]

   
SOBRE A AUTORA:

Joice Berth, arquiteta e urbanista pela Universidade Nove de Julho, especialista em Direito Urbanístico, pesquisa sobre Direito a cidade com recorte de gênero e raça, foi colunista do site Justificando e atualmente escreve para a revista Carta Capital.


Karina Guedes
@okarapoetica

domingo, 29 de março de 2020

AS CIENTISTAS - 50 MULHERES QUE MUDARAM O MUNDO - Rachel Ignotofsky

Na sociedade patriarcal, uma mulher pode ser tudo menos inteligente, autoconfiante e estar disposta a quebrar regras. Não tem coisa que incomode mais o patriarcado do que uma mulher inteligente e segura de si!

Durante muito tempo, cuidar do lar, educar os filhos, servir ao marido eram as únicas ambições permitidas às mulheres. O acesso a educação foi uma das mais importantes conquistas da luta feminista, aprender a ler, a escrever, se matricular numa escola, frequentar uma universidade, é algo muito recente na história das mulheres. E infelizmente, ainda hoje o acesso a essa grande conquista não está ao alcance de todas.

Ainda que muitas mulheres tenham se apropriado deste direito e seguido carreiras de trabalho brilhantes e colecionado produções científicas memoráveis, pouquíssimas delas são lembradas ou até mesmo conhecidas nos dias de hoje.

“Quando pensamos em física, não deveríamos lembrar só de Albert Einstein, mas também de Emmy Noether, uma matemática brilhante para física teórica. Todos deveríamos saber que foi Rosalind Franklin quem descobriu a estrutura de dupla hélice do DNA, não James Watson e Francis Crick. Ao admitirmos os avanços na tecnologia da computação, lembremos não só de Steve Jobs ou Bill Gates, mas também de Grace Hooper, a criadora da programação moderna.” 

É o que nos diz Rachel Ignotofsky que escreveu e ilustrou “As Cientistas – 50 mulheres que mudaram o mundo”, no intuito de dar visibilidade a essas mulheres cientistas pouco conhecidas, ela também espera que esse trabalho possa inspirar garotas e mulheres a seguirem suas paixões e seus sonhos.

Com uma linguagem direta e ilustrações dinâmicas, o livro é um convite a revisarmos nosso conhecimento sobre a história das ciências. Muitos dos avanços que usufruímos hoje, foram conquistados graças aos esforços desses mulheres cientistas, que além de trabalhar muito para desenvolver suas pesquisas, ainda tiveram que enfrentar preconceito, machismo e até mesmo boicotes de seus trabalhos.
   
Além de absolutamente informativo, este livro é uma fofura. Não canso de ler e reler, e a cada releitura compreendo mais o quanto precisamos incentivar os estudos das ciências entre as garotas e mulheres. Temos tanta capacidade quanto os homens para fazer ciência e revolucionar o mundo, não podemos deixar jamais que nos façam pensar o contrário! É uma boa escolha literária para começar a dialogar com meninas sobre, "papeis de mulher". 


SOBRE A AUTORA: 

Rachel Ignotofsky se formou com honras no programa de Design Gráfico da Tyler School of Art em 2011. História e ciência a inspiram e ela acredita que a ilustração é um recurso poderoso para tornar a aprendizagem científica e poder feminino. Para saber ver mais da arte educacional de Rachel e saber mais sobre ela, visite www.rachelignotofsky.com

Karina Guedes
@okarapoetica


HISTÓRIAS DE NINAR PARA GAROTAS REBELDES - Elena Favilli e Francesca Cavallo

Embora a historiografia oficial tenha se esquecido delas, as mulheres nunca estiveram ausentes na história e no processo de desenvolvimento da sociedade. No passado as restrições ao acesso das mulheres à educação não eram incomuns, sendo criadas apenas para serem boas esposas e mães enquanto seus maridos as sustentavam. Muitas delas resistiram e enfrentaram as limitações de seu tempo e se engajaram em grandes projetos de vida.

As breves biografias apresentadas nos livros, “Histórias de Ninar Para Garotas Rebeldes” e “Histórias de Ninar Para Garotas Rebeldes 2”, ambos escritos por Elena Favilli e Francesca Cavalo e publicados com financiamento coletivo, são verdadeiros convites para refletirmos sobre o processo de invisibilização da mulher na historiografia oficial. Cada livro traz as histórias de mulheres de todo o mundo e de todas as épocas, com linguagem acessível e em forma de contos de fadas. Cada narrativa vem acompanhada de uma ilustração belíssima, com elementos que remetem à vida e aos feitos de cada heroína, que nos é apresentada nessas páginas.

“Infelizmente, confiança não é algo que a maioria das mulheres têm a chance de experimentar com frequência. Como poderíamos? A maioria das mulheres extraordinárias retratadas neste livro nunca experenciou esse tipo de convicção. Independente da importância de suas descobertas, da audácia das suas aventuras e da extensão da tal genialidade, elas foram constantemente menosprezadas, esquecidas e, em alguns casos, quase excluídas da história.” (Elena Favilli)

Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes é muito mais que um livro de literatura infantil, é o tipo de leitura capaz inspirar pessoas de todas as idades. Saber que existiram e existem mulheres que venceram as barreiras do preconceito, do machismo e seguiram em frente em seus audaciosos projetos de vida, dialoga diretamente com a nossa autoestima e senso estético. Crescemos admirando os homens e seus feitos, porque eram essas as histórias que chegavam até nós e possivelmente até bem pouco tempo atrás nem imaginávamos que existiram mulheres revolucionárias e que elas estavam apenas escondidas nos empoeirados discursos e contos heroicos do patriarcado.

“É importante que as garotas entendam os osbstáculos que terão que enfrentar, assim como é importante que elas saibam que esses empecilhos não são insuperáveis, e que elas não apenas podem encontrar um jeito de vencê-los como também podem removê-los para aquelas que virão depois.”
(Elena Favilli)

Além de contribuir para o reconhecimento da importância de suas vidas e seus feitos nas mais diversas áreas, como educação, arte, esporte, ciências, política, arquitetura, negócios, navegação etc., mergulhar nestas narrativas pode ser um dos primeiros passos para o chamado empoderamento.

Particularmente, achei a proposta genial. E o mais interessante é que hoje temos muitos trabalhos semelhantes como: Grandes Mulheres que Fizeram História, Kate Pankhurst e Flávia Yacubian , 2019; Extraordinárias: Mulheres que revolucionaram o Brasil, Duda Porto de Souza e Aryane Cararo,2017; As Cientistas: 50 Mulheres que Mudaram o Mundo, Rachel Ignotofsky (resenha deste último Aqui!)

Acredito que uma garota que cresce lendo ou ouvindo essas histórias de mulheres extraordinárias do Brasil e do mundo, pode ter um significativo amadurecimento em sua subjetividade, compreensão de si, de seu papel no mundo e dificilmente se contentará em cumprir um destino imposto. Acho que esse tipo de literatura pode contribuir muito para elaboração de representatividades estéticas importantes no florescer da vontade de emancipação. Isso é só um palpite,rs.


SOBRE AS AUTORAS:

Elena Favilli é empreendedora de mídia e jornalista. Trabalho na revista Colors, na McSweeney´s, na RAI, no II Post e no La Repubblica e gerenciou agências de notícias de ambos os lados do Atlântico. Possui mestrado em semiótica na Universidade de Bolonha(Itália) e estudou jornalismo digital na U.C.Berkeley.

Francesca Cavallo é escritora e diretora de teatro premiada. É mestre em Direção Teatral pela Escola de Artes Dramáticas Paolo Grassi, em Milão (Itália). Fundadora do Sferracavalli, o Festival Internacional de Imaginação Sustentável do sul da Itália.                          

Karina Guedes
@okarapoetica

sábado, 28 de março de 2020

RODÍZIO LITERÁRIO - 2ª Edição.


Queridos aventureiros (as) literários!

Hoje era para ter acontecido o segundo encontro do Rodízio Literário, e como de costume eu postaria aqui um relato de como foi e do que rolou. No entanto, por conta dessa pandemia (Covid-19) que nós estamos enfrentando, o encontro não aconteceu. 

O rodízio terminou, todas leitoras inscritas conseguiram terminar a leitura do livro "tudo Nela Brilha e Queima", da Ryane Leão,  mas infelizmente não podemos nos encontrar e fazer a partilha das impressões da leitura. É uma pena porque está um sábado muito lindo, sol gostoso e uma numa tarde de outono maravilhosa!!!! Então que pena não poder estar juntas celebrando a literatura, a poesia e falando dessa poeta incrível.

Mas para não ficar assim em branco, resolvi montar uma playlist com alguns poemas dela recitados. Além de poemas deste livro que lemos no rodízio, acrescentei alguns do segundo livro que também é massa! Assim já aproveitei para inaugurar nosso perfil no Soundcloud e em breve teremos mais poesias além dessas recitadas lá, ok? 

Como disse na resenha do livro, essa poesia foi inspiradora para mim e me lembrou várias cantoras incríveis, ícones do jazz, soul, pop e rock que usei como fundo musical, meio improvisado, mas dá pra entrar no clima hehehe. Rolou até  Paco de Lucia e Miles Davis lá, mas é porque bateu uma vontade de dançar também.

Confiram a playlist poética, em homenagem a nossa autora da vez! CLIQUE AQUI. 

Para saber mais sobre o que é e como funciona o Rodízio Literário , CLIQUE AQUI. 


Karina Guedes
@okarapoetica


sexta-feira, 27 de março de 2020

TUDO NELA BRILHA E QUEIMA - Ryane Leão


O cotidiano, as ausências que sobram, as presenças que faltam, feridas abertas, cicatrizes que coçam, Ryane Leão fala de amores e dores com a mesma intensidade. 

À medida que ia lendo este livro por vezes me vi há vinte anos atrás, me jogando sozinha no mundo e enfrentando tudo o que viesse pela frente. Para quem decide se libertar dos padrões de comportamento que a sociedade patriarcal impõe, submissão, casamento, maternidade e a velha moral burguesa às avessas, aprender a resistir e a se reconstruir lutando contra tudo isso é um ato de amor e compaixão para consigo mesma.

O título já diz muito sobre Ryane Leão, ela brilha e queima linha por linha. O amor, as alegrias, revoltas e euforias que transbordam dos versos escritos encontram remanso no peito de quem lê. Afinal, além de verso e ritmo, poesia é também encontro.

As vozes de sua poesia transmitem força, doçura e revolta.     Sentimentos comuns às mulheres que se propõem a questionar sua existência e seu lugar no mundo, assim como criar seu próprio mapa e se aventurar em seus próprios caminhos. A luta e a resistência da mulher negra, são os pilares de sua poética, evocada com sabedoria e amor.

Com uma métrica própria e versos intensos, a autora nos convida a dar vida à nossa voz e nossa poética mais íntima. Afinal, sua poesia é como um chamado para a coragem de questionar, protestar e amar. O diferencial de seu estilo não está só na estrutura estética dos versos, mas também nos temas abordados. Amor, reflexões, desilusões, recomeços, racismo, machismo, luta e muita paixão pela palavra são marcas de seu trabalho. Difícil não se entusiasmar com versos tão empoderadores. Questionamentos, vontade de lutar e reivindicar o seu lugar sem medo de se posicionar. Uma voz poética que ecoa e se expande, indo muito além dos cafés elitizados ou manuais literários acadêmicos de outrora. 

 Ícone da literatura brasileira contemporânea, Ryane Leão é a poesia do hoje, do agora, do momento de luta e amor de cada mulher. É atual, sem ser rasa, simples sem ser supérflua e ao mesmo tempo complexa o bastante para nos levar à reflexões sobre nós mesmos, nossas relações e nossa luta diária.
  
Durante a leitura senti uma vontade imensa de ouvir Nina Simone, Aretha Franklin, Gloria Gayor, Beyoncé, mulheres que usaram a arte como instrumento de resistência e luta. E não só ouvir suas canções, mas compreender suas histórias de vida.  É  absolutamente incrível a sede de conhecimento que uma poesia engajada na concretude das relações sociais pode nos provocar.

Talvez a poesia de Ryane Leão seja um convite a olhar para si mesmo, se conhecer e buscar em nossa ancestralidade toda força de resistência necessária para se manter de pé, de cabeça erguida e em luta. Porém sem abrir mão da capacidade e vontade de amar.



+ SOBRE A AUTORA:

Poeta, professora, Ryane Leão começou a  publicação de seus poemas em lambe-lambes e espalhando pela cidade e também no Twitter.  O projeto @ondejazzmeucoracao, tem milhares de seguidores no Instagram e propõe um grito de poesia e de luta.

Em 2016 realizou uma campanha de financiamento coletivo para o lançamento de seu primeiro livro. No ano seguinte publicou “Tudo Nela Brilha e Queima” (Editora Planeta), marcado pelo ativismo em defesa dos direitos das mulheres negras, que em 2018 lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Jabuti de literatura.

Ryane também é fundadora do Odara- English School for Black Girls, escola de inglês para mulheres negras, onde o trabalho é pautado na resistência da arte e da educação.

Empoderamento e ancestralidade dão um tom de luta na cadência de seus versos. Lançou o segundo livro “Jamais peço desculpas por me derramar” (Editora Planeta) em 2019.

É considerada um nos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea.

 

Karina Guedes
@okarapoetica




segunda-feira, 23 de março de 2020

QUARENTENA LITERÁRIA!

Olá queridos companheiros (as) de viagens literárias!

Que momento difícil esse em que nos encontramos.  Eu tinha toda uma programação para o mês de março, com leituras e resenhas de obras de grandes escritoras e teríamos também segundo encontro do nosso Rodízio Literário, onde fizemos a leitura da maravilhosa poesia de Ryane Leão. Mas de repente tudo mudou e infelizmente vamos ter que adiar o encontro e sinceramente eu perdi um pouco do pique do que estava preparando para este mês.

Ocupei boa parte dos meus dias buscando, filtrando e digerindo as informações a respeito do covid-19. As coisas estão acontecendo e mudando de paradigmas muito rapidamente, na mesma velocidade da transmissão do vírus. Então, demorei um pouco para me organizar e pensar no que fazer nessa quarentena, que pelo visto não será só de quarenta dias. Que coisa! Mas vamos tentar ver o lado positivo (se é que podemos chamar assim) de tudo isso?

A orientação máxima para conter essa pandemia é para ficar em casa. Oras, para quem pode fazer isso, essa talvez seja uma oportunidade única de utilizar um pouco desse nosso precioso tempo de vida com nós mesmos. Acredito que vocês devem estar recebendo aí chuvas de indicações de coisas para matar o tempo nesse período. Mas que tal se em vez de matar o tempo, nós pudéssemos viver esse tempo. Sabe, experimentar essa chance de fazer algo significativo, intenso, belo e transformador. Algo que nos faça sentir nossa existência de maneira mais ampliada. Ficar em casa pede recolhimento não só do corpo, mas da mente e espírito. Se resguardar por inteiro e ao mesmo tempo direcionar nosso olhar para o que há de mais profundo em nós.

E sabe o que pode ajudar a chegar nesse elevado nível de consciência? Um livro. Sim, o bom e velho livro! Os filmes, séries, jogos e tals, podem ser interessantes experiências de leitura, reflexão e diversão, mas nenhuma delas se compara ao livro.

Compreendo que ler um livro é uma tarefa árdua para muita gente e de modo geral é um desafio de diferentes níveis para cada um de nós. Pois, trata-se de uma atividade que exige disciplina e até mesmo disposição física para poder mergulhar numa narrativa. Sem contar que o acesso ao livro impresso tem se tornado cada vez mais escasso e agora com bibliotecas fechadas ficará ainda mais difícil. No entanto, mesmo compreendendo que o que vou propor aqui vai na contramão das ansiedades por distrações de fácil acesso, não consigo deixar de recomendar ler livros durante essa quarentena. Pode ser aqueles empoeirados na sua estante ou os que estão disponíveis em plataformas digitais, mas leia um livro.

Ler um livro é uma verdadeira aventura, um exercício de concentração quase meditativo e ao mesmo tempo uma experiência sensorial incrível. Quem tem o privilégio de ter livros impressos por perto, pode vivenciar uma experiencia que considero inigualável: ao tocar  e pegar no livro sentimos o peso e a textura do papel, o cheiro que bate a cada virada de página, as emoções que surgem a cada parágrafo e depois vem a famosa ressaca que bate quando aquela história em que você se envolveu tanto, simplesmente acaba.

Nada contra as plataformas digitais, pelo contrário, acho que elas cumprem o papel da acessibilidade e expandem a aventura literária para lugares onde o livro impresso talvez nunca chegue. Mas particularmente não consigo abrir mão desse contato físico com o livro em papel. Preciso desse cheiro de papel e tinta, isso é totalmente pessoal.

Sempre que indico leitura de livros, ouço o resmungar de gente dizendo que não gosta de ler. Neste caso costumo responder o seguinte: não é que você não gosta de ler, provavelmente você só não descobriu ainda seu gênero ou estilo literário! Ou então você ainda não encontrou sua alma gêmea literária, aquele escritor (a) que com ardilosas palavras te arranca do marasmo da ordinária vida cotidiana. E para isso você precisa ir à luta, percorrer páginas e páginas, procurar até encontrar. E cá entre nós, já adianto uma coisa: a melhor parte dessa jornada não é quando a busca termina, mas sim o próprio caminho.

Não se preocupe se não souber por onde começar a ler, afinal estarei por aqui de quarentena também, compartilhando dicas de leituras e aventuras para que esse tempo difícil em que vivemos, possa ser o menos doloroso possível. E se tem algo que pode nos livrar do tédio e nos guiar nos caminhos que levam às profundidades do nosso ser e à elevação da consciência, o nome disso é Literatura.

Fiquem em casa, se cuidem e aproveitem!

Karina Guedes
@okarapoetica