Muito mais que um livro sobre escritoras pouco conhecidas, A Revolução das Mulheres é um verdadeiro dossiê sobre a emancipação feminina na Rússia socialista e também uma excelente introdução para a compreensão de todo o processo, que com a efetiva participação das mulheres, consolidou
as bases para as Revoluções 1917.
Neste livro organizado por Graziela Schneider, encontramos
artigos, atas, panfletos, ensaios escritos por importantes mulheres antes e
depois da revolução. Traduzidos diretamente do Russo para o português, e isso faz toda a diferença, pois podemos acessar com mais acertividade (e pouca chances de má interpretações) as genuínas ideias defendidas por grandes nomes da revolução como Alexandra Kollontai, Nadejda Krupskaia, entre outras.
Cada
texto nos revela aos poucos a dimensão da siginifcativa e fundamental presença das mulheres em todo o processo que levou a Rússia à Revolução de Outubro.
Através das vozes dessas mulheres, escritoras, jornalistas,
professoras, poetas, guerreiras e militantes políticas, podemos conhecer a revolução por dentro. E assim tomar
conhecimento de quanto trabalho foi feito por elas para que as mulheres trabalhadoras e camponesas pudessem sair do
limitado círculo da vida doméstica, serem incluídas nos debates políticos e terem suas necessidades pautadas em reuniões
organizacionais, conferências, congressos, além de engajá-las defetivamente na luta revolucionária. E obviamente, todo esse processo não se deu do dia para noite. Foram anos de contribuição e muito suor feminino, para que a revolução pudesse realmente ter alguma chance de acontecer.
Todos os textos são muito ricos em informações e exposição de ideias, e representam muito do pensamento e engajamento das mulheres deste período histórico, não só da Russia mas do mundo. Este precioso material deixa claro as vitórias da revolução no que diz respeito a emancipação feminina atingida durante o período revolucionário.
Um ponto importante de se observar é que algumas pautas daquele momento, como a luta contra a dupla exploração de sua força de trabalho por conta do trabalho doméstico que recai sobre nós,
a proteção plena à maternidade e o direito de ser mãe e trabalhadora ao mesmo tempo sem nenhum prejuízo nem de uma coisa e nem de outra, a efetiva participação das mulheres nos meios de produção, a luta pela redução da jornada de trabalho e salários mais justos, são
bandeiras de luta a serem defendidas ainda hoje na sociedade capitalista.
Diante de tal constatação, é compreensível a importância de
resgatarmos o 8 de março como um dia de reverenciar a luta das mulheres. Desde
sua origem esta data nunca foi um dia meramente festivo e não poderia ser. Afinal, há muito trabalho
ainda a ser feito e muita luta pela frente! E isso faz com que muitas das questões colocadas em alguns dos textos contidos nesse
livro sejam, infelizmente, muito latentes.
Recomendo muito, mais muito mesmo a leitura deste livro para todas as mulheres que se dizem feministas e mais ainda por aquelas que ainda não compreenderam o que é a luta das mulheres e a real necessidade dela.
SOBRE A ORGANIZADORA:
Graziela Schneider Urso é tradutora, graduada em russo e
português, mestre e doutora em literatura e cultura russa pela Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com ênfase em estudos da tradução.
Traduziu diversas autoras e autores russos. Trabalhou no Escritório do Fórum
Social Europeu, atuando em especial com tradução e coordenação de intérpretes. Colaborou
com a Marcha Mundial das Mulheres.